1984 – George Orwell
1984 – George Orwell ÍNDICE
PARTE 1
006 – Capítulo 1
044 – Capítulo 2
063 – Capítulo 3
081 – Capítulo 4
104 – Capítulo 5
136 – Capítulo 6
149 – Capítulo 7
174 – Capítulo 8
1984 – George Orwell PARTE 2
221 – Capítulo 1
247 – Capítulo 2
269 – Capítulo 3
291 – Capítulo 4
314 – Capítulo 5
334 – Capítulo 6
341 – Capítulo 7
357 – Capítulo 8
387 – Capítulo 9
1984 – George Orwell PARTE 3
480 – Capítulo 1
511 – Capítulo 2
557 – Capítulo 3
586 – Capítulo 4
604 – Capítulo 5
615 – Capítulo 6
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5
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E
ra um dia claro e frio de abril e os relógios mar-
cavam treze horas. Winston Smith, seu queixo
abaixado de encontro ao peito numa tentati
–
va de escapar do vento infame, passou rápido
pelas portas de vidro das Mansões da Vitória, ain
–
da que não rápido o suficiente para evitar que um
montinho de poeira fina entrasse junto com ele.
O hall de entrada tinha cheiro de repolho cozido e
tapetes velhos de retalhos. Um cartaz grande de
–
mais para ser exposto internamente estava fixado
em uma das extremidades. Mostrava simplesmen
–
te um rosto enorme, mais de um metro de largura:
o rosto de um homem de cerca de 45 anos, com um
bigode preto farto e traços acidentalmente boni
–
tos. Winston alcançou as escadas. Não adiantava
chamar o elevador. Raramente estava funcionan
–
do, mesmo em momentos melhores, e atualmen –
te a energia elétrica ficava desligada durante o dia.
Isso era parte de um esforço econômico em pre
–
paração para a Semana do Ódio. O apartamento
ficava no sétimo andar e Winston, que tinha 39
anos de idade e uma úlcera varicosa logo acima
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do tornozelo direito, subiu devagar, fazendo vá-
rias pausas durante o caminho. Em cada andar, na
parede do lado oposto ao poço do elevador, o pôster
com o rosto enorme encarava quem passasse. Era
uma dessas imagens que dão a impressão de que os
olhos continuavam seguindo você depois que você
passa. O GRANDE IRMÃO ESTÁ VENDO VOCÊ, lia
–
-se a legenda.
Dentro do apartamento, uma voz doce estava len
–
do uma lista de números que tinham algo a ver
com a produção de ferro. A voz vinha de uma pla
–
ca metálica longa parecida com um espelho opaco
que fazia parte da superfície da parede da direita.
Winston girou um interruptor e a voz abaixou um
pouco, embora as palavras ainda fossem distin
–
guíveis. O instrumento (a teletela, como era cha-
mado) podia ser escurecido, mas não era possível
desligá-lo completamente. Winston foi até a janela:
tinha uma aparência pequena e frágil, a magreza de
seu corpo era enfatizada pelo macacão azul que era
o uniforme oficial do partido. Seu cabelo era muito
claro, seu rosto naturalmente sanguíneo, sua pele
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áspera por conta do sabão grosso e das lâminas de
barbear cegas e do frio do inverno que tinha acaba
–
do de terminar.
Lá fora, mesmo através do vidro da janela fechada,
o mundo parecia frio. Na rua, pequenos redemoi
–
nhos de vento levantavam o pó e os papéis ras-
gados, e, embora o sol brilhasse e o céu fosse azul
vivo, nada parecia ter cor, exceto os cartazes que
estavam colados em todos os lugares. O bigode ne
–
gro ficava vigiando todos em cada esquina. Havia
um na fachada da casa oposta. O GRANDE IRMÃO
ESTÁ VENDO VOCÊ, dizia a legenda, enquanto os
olhos escuros olhavam profundamente para os
olhos do próprio Winston. Ao nível da rua, outro
cartaz, rasgado em uma esquina e sendo dobrado
pelo vento, cobrindo e descobrindo…