Alice no País das Maravilhas

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NO PAÍS DAS
MARAVILHAS
Lewis Carroll
Edição Bilíngue

NO PAÍS DAS
MARAVILHAS
Lewis Carroll
Traduzido por André Cristi

PREFÁCIO
O senhor Dodgson nos contou muitas histórias durante várias
das expedições que fazíamos pelo rio para visitar Nuneham ou
Godstow, perto de Oxford. Minha irmã mais velha, agora senhora
Skene, era “Prima”, eu era “Secunda” e minha irmã Edith era
“Tertia”. Acho que o começo de Alice foi inventado em uma dessas
tardes de verão. O sol estava tão forte que deixamos o bote na
margem gramada do rio e fugimos para a única sombra à vista,
debaixo de uma choupana de feno recém-cortado. Ali, nós três
fizemos o velho pedido: “Conta uma história?”. E foi assim que
aquela aventura maravilhosa teve início. Às vezes, ele nos provocava
— talvez por estar realmente cansado — e parava de repente
dizendo: “E por hoje é só, até a próxima vez”. “Ah, mas esta já é a
próxima vez!”, exclamávamos. Depois de insistirmos um pouco, a
história recomeçava. Outras vezes, a narrativa principiava ainda no
barco, e o senhor Dodgson, no meio de uma história vibrante, fingia
cair no sono de repente, para nosso desespero.
Alice Liddell
1

TODOS NA TARDE DOURADA
Vamos nós na tarde dourada
Cair suavemente;
Bracinhos remando sem arte
Levam a proa à frente,
Mãozinhas apontam o norte,
Pretensiosamente.
Oh, Trio terrível! Bem na hora
Da vadiagem boa,
Elas imploram por um conto
Uma historinha à toa!
Uma língua contra três: três
Vezes mais qual ecoa?
Prima, bem mandona, decreta:
— Hora de começar.
Secunda, mais meiga, acredita:
— Sentido não terá.
Irrequieta, Tertia atrapalha
O conto sem parar.

Assim que o silêncio domina,
A magia então fervilha
São aventuras de uma menina
No País das Maravilhas,
Onde jabutis, grifos e lagostas —
Gostam de dançar quadrilha.
Quando a história secava
O poço quimérico,
O contador desconversava:
— O próximo conto será feérico.
— Mas o próximo é agora! —
Pediam as três eufóricas.
Eis que surgiu o tal país:
Pedaço por pedaço,
Foram lavrados seus relevos —
Restam prontos seus traços,
O sol se põe, voltamos nós,
Trupe de alegre passo.
Agarre, Alice, esta história,
Com tua mão gentil.
Lançai-a fundo na memória
Mística e juvenil,

Feito peregrino que guarda
Flores murchas a fio.

A
DENTRO DA TOCA
DO COELHO
lice já estava cansada de ficar sentada no banco sem nada
para fazer. Por uma ou duas vezes ela xeretou o livro que a
irmã lia a seu lado, mas nele não havia figuras nem diálogos.
“Para que serve um livro sem figuras nem diálogos?”,
Alice pensou.
Ela considerava o tanto quanto podia (afinal, o dia quente a
deixava zonza e sonolenta) se o prazer de montar uma guirlanda de
margaridas valeria o esforço de se levantar para colhê-las. Foi
quando, de repente, um Coelho Branco de olhos cor-de-rosa passou
correndo perto dela.
Não havia nada de tão incrível nisso. Alice também não achou
nada de mais ouvir o Coelho Branco conversar sozinho:
— Ai, rapaz! Ai, rapaz! Vou me atrasar — ele dizia.
Depois, ao pensar melhor, passou pela cabeça de Alice que ela
deveria ter se impressionado mesmo que só um pouquinho com
aquilo. Na hora, entretanto, tudo lhe pareceu completamente
normal.
Alice só se alvoroçou quando o Coelho Branco sacou um relógio
do bolso de seu colete, checou as horas e saiu apressado. Ela se deu
conta de que nunca tinha visto um coelho com um relógio no bolso
do colete. Ardendo de curiosidade, correu atrás dele a tempo de vê-
lo se emburacar toca adentro no pé de uma cerca.

No instante seguinte, era Alice quem se entocava ali. Decidiu
perseguir o Coelho Branco sem refletir sobre como sairia daquele
buraco.
A toca tinha um trecho reto semelhante a um túnel. Depois,
inclinava-se bruscamente para baixo, tão bruscamente que Alice
não foi sequer capaz de pensar em frear. Simplesmente despencou
em um poço de grande profundidade.
Aliás, das duas uma: ou o poço era demasiado fundo ou ela
estava caindo bem devagarinho. A queda era tão demorada, mas tão
demorada que Alice conseguia observar tudo a seu redor e pensar
tranquilamente no que aconteceria depois. Primeiro, tentou olhar
para baixo, para descobrir onde ia parar, mas…

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