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RICHARD DAWKINS
Deus, um delírio
Tradução
Fernanda Ravagnani
COMPANHIA DAS LETRAS
Observações:
A versão original impressa do livro no português do Brasil tem 520 páginas. Esta versão
eletrônica tem 382 páginas que correspondem as primeiras 475 páginas do livro impresso. Não
estão incluídas aqui o Apêndice, Livros citados ou recomendados, Notas, Índice remissivo.
Posso dizer que está completa. Julguei que a maioria dos leitores ignoraria estas páginas. Foram
gastos mais de 100 horas no escaneamento e reformatação do livro. Mas, como esta obra foi
escaneada da versão original e o escâner utilizado não tem 100% de precisão, alguns erros
gráficos podem ser percebidos. Quem quiser fazer um trabalho melhor que o faça. Críticas,
elogios e sugestões de correções serão bem vindas no e-mail: [email protected]
Um abraço a todos,
Boa leitura
NÃO SE ESQUEÇAM DE ADQUIRIR A VERSÃO IMPRESSA ORIGINAL, CASO CONTRÁRIO ESTARÁS
FAZENDO PIRATARIA. PIRATARIA É CRIME
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Copyright © 2006 by Richard Dawkins
Título original The God delusion
Capa
Fábio Uehara
Preparação Cacilda Guerra
índice remissivo Frederico Dentello
Revisão
Valquíria Delia Pozza
Isabel Jorge Cury
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil
Dawkins, Richard, 1941-
Deus, um delírio / Richard Dawkins ; tradução de Fernanda Ravagnani. — São Paulo : Companhia das
Letras, 2007.
Título original: The God delusion
Bibliografia.
ISBN 978-85-359-1070-4
1. Ateísmo 2. Deus – Existência 3. Fundamentalismo 4. Irreligião 5. Religião i. Titulo.
07-5603 CDD-2H.8
índice para catálogo sistemático:
i. Ateísmo e irreligião : Teoria da religião 211.8
[2007]
Todos os direitos desta edição reservados à
EDITORA SCHWARCZ LTDA.
Rua Bandeira Paulista 702 cj. 32
04532-002 — São Paulo — SP
Telefone (11) 3707-3500
Fax (11) 3707-3501
www.companhiadasletras.com.br
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In memoriam Douglas Adams (1952-2001)
“Não é o bastante ver que um jardim é bonito sem ter que acreditar também
que há fadas escondidas nele?”
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Sumário
Prefácio à edição de bolso……………………………………………………………………… 08
Prefácio……………………………………………………………………………………………….. 18
1. UM DESCRENTE PROFUNDAMENTE RELIGIOSO…………………………………… 25
Respeito merecido……………………………………………………………………………….. 25
Respeito não merecido………………………………………………………………………….. 34
2. A HIPÓTESE DE QUE DEUS EXISTE………………………………………………………. 43
Politeísmo……………………………………………………………………………………………. 44
Monoteísmo………………………………………………………………………………………… 50
Secularismo, os Pais Fundadores e a religião dos Estados Unidos……………….. 52
A pobreza do agnosticismo……………………………………………………………………. 59
MNI…………………………………………………………………………………………………….. 67
O Grande Experimento da Prece…………………………………………………………….. 74
A escola Neville Chamberlain de evolucionistas……………………………………….. 79
Homenzinhos verdes…………………………………………………………………………….. 82
3. ARGUMENTOS PARA A EXISTÊNCIA DE DEUS………………………………………. 88
As “provas” de Tomás de Aquino……………………………………………………………. 88
O argumento ontológico e outros argumentos a priori……………………………… 91
O argumento da beleza…………………………………………………………………………. 97
O argumento da “experiência” pessoal……………………………………………………. 98
O argumento das Escrituras…………………………………………………………………… 104
O argumento dos cientistas admirados e religiosos…………………………………… 110
A aposta de Pascal………………………………………………………………………………… 116
Argumentos bayesianos………………………………………………………………………… 118
4. POR QUE QUASE COM CERTEZA DEUS NÃO EXISTE……………………………… 123
O Boeing 747 definitivo…………………………………………………………………………. 123
A seleção natural como conscientizadora………………………………………………… 125
Complexidade irredutível………………………………………………………………………. 130
A adoração das lacunas…………………………………………………………………………. 136
O princípio antrópico: versão planetária………………………………………………….. 146
O princípio antrópico: versão cosmológica………………………………………………. 154
Um interlúdio em Cambridge ………………………………………………………………. 164
5. AS RAÍZES DA RELIGIÃO…………………………………………………………………….. 173
O imperativo darwinista………………………………………………………………………… 173
Vantagens diretas da religião ………………………………………………………………. 177
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Seleção de grupo………………………………………………………………………………….. 181
Religião como subproduto de outra coisa………………………………………………… 183
Preparados psicologicamente para a religião…………………………………………… 191
Pisa devagar, pois pisas nos meus memes……………………………………………….. 203
Cultos à carga………………………………………………………………………………………. 215
6. AS RAÍZES DA MORALIDADE: POR QUE SOMOS BONS?………………………… 221
Nosso senso moral tem origem darwiniana?……………………………………………. 225
Um estudo de caso das raízes da moralidade…………………………………………… 234
Se Deus não existe, por que ser bom?…………………………………………………….. 238
7. O LIVRO DO “BEM” E O ZEITGEIST MORAL MUTANTE………………………….. 246
O Antigo Testamento……………………………………………………………………………. 247
O Novo Testamento é melhor?………………………………………………………………. 260
Ama o próximo…………………………………………………………………………………….. 264
O Zeitgeist moral………………………………………………………………………………….. 272
E Hitler e Stálin? Eles não eram ateus?……………………………………………………. 282
8. O QUE A RELIGIÃO TEM DE MAU? POR QUE SER TÃO HOSTIL?……………. 289
Fundamentalismo e a subversão da ciência……………………………………………… 290
O lado negro do absolutismo…………………………………………………………………. 295
Fé e homossexualidade…………………………………………………………………………. 297
A fé e a santidade da vida humana…………………………………………………………. 300
A Grande Falácia Beethoven………………………………………………………………….. 307
Como a “moderação” na fé alimenta o fanatismo…………………………………….. 311
9. INFÂNCIA, ABUSO E A FUGA DA RELIGIÃO………………………………………….. 318
Abuso físico e mental……………………………………………………………………………. 323
Em defesa das crianças………………………………………………………………………….. 332
Um escândalo educacional…………………………………………………………………….. 338
Conscientização de novo ……………………………………………………………………….. 344
Educação religiosa como parte da cultura literária …………………………………… 347
10. UMA LACUNA MUITO NECESSÁRIA?…………………………………………………. 351
Binker…………………………………………………………………………………………………. 352
Consolo……………………………………………………………………………………………….. 356
Inspiração……………………………………………………………………………………………. 366
A mãe de todas as burcas………………………………………………………………………. 367
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Neste livro, Richard Dawkins, um dos intelectuais mais respeitados da
atualidade, arma-se mais uma vez de seu texto sagaz, sarcástico e muitas vezes
divertido para atacar sem piedade, mas com muito fundamento, o que
considera um dos grandes equívocos da humanidade: a fé em qualquer
entidade divina ou sobrenatural, seja Alá, seja o Deus católico, evangélico ou
judeu.
“Se este livro funcionar do modo como espero, os leitores religiosos que o
abrirem serão ateus quando o terminarem”, diz ele no prefácio — não sem
reconhecer sua presunção. Dawkins admite que dificilmente convencerá os fiéis
recalcados, mas quer, pelo menos, atingir aqueles que crêem por inércia e fazê-
los assumir o ateísmo com orgulho. O tom é de quem quer mesmo mudar o
mundo.
Para tal, o biólogo usa argumentos contundentes e muito bem
embasados para questionar a tese do design inteligente e a própria existência
de Deus, sugerindo hipóteses darwinistas para nossa predisposição psicológica
a acreditar em uma entidade divina. Mais que isso, Dawkins faz um apelo
apaixonado contra a doutrinação de crianças em qualquer religião. Para ele, o
simples fato de dizermos “criança católica” ou “criança judia” é uma forma de
abuso infantil, comparável até ao abuso sexual, tão absurdo como falar de
“criança neoliberal”.
As provocações são propositais. Dawkins não trata questões religiosas
com deferência. Um dos conceitos que ataca é justamente a idéia de que a
religião mereça um respeito especial. Mas, se é agressivo para expressar sua
indignação com o que considera um dos males mais preocupantes da
atualidade, Dawkins refuta o negativismo. Ser ateu não é incompatível com
bons princípios morais e com a apreciação da beleza do mundo. A própria
palavra “Deus” ganha o seu aval na ressalva do “Deus einsteiniano”, e o
maravilhamento com o universo e com a vida, já manifestado em seus outros
livros, encerra a argumentação numa nota de otimismo e esperança.
Richard Dawkins nasceu em Nairóbi em 1941 e cresceu na Inglaterra. Formou-se
pela Universidade de Oxford e deu aulas de zoologia na Universidade da Califórnia em
Ber-keley. É titular da cátedra de Compreensão Pública da Ciência de Oxford. Dele, a
Companhia das Letras publicou O relojoeiro cego, A escalada do monte Improvável, O
capelão do diabo e Desvendando o arco-íris.
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Prefácio à edição de bolso
Deus, um delírio, na edição em capa dura, foi amplamente considerado
o best-seller-surpresa de 2006. Foi muito bem recebido pela grande maioria
dos leitores que enviaram suas avaliações pessoais para a Amazon (cerca de
mil no momento em que escrevo). A aprovação foi menos impressionante
nas resenhas publicadas pela imprensa. Um cínico poderia atribuir esse fato
ao reflexo pouco criativo dos editores das resenhas: se o livro tem “Deus” no
título, mande para um devoto convicto. Seria, porém, cinismo demais. Várias
resenhas desfavoráveis começavam com a frase que, há muito tempo,
aprendi ser um péssimo sinal: “Sou ateu, MAS…”. Como Dan Dennett
ressaltou em Quebrando o encanto, um número desconcertantemente
grande de intelectuais “acredita na crença”, embora não tenham eles
mesmos a crença religiosa. Esses fiéis de segunda mão são freqüentemente
mais zelosos que os originais, o zelo inflado pela tolerância simpática: “Ora,
não tenho a mesma fé que você, mas respeito-a e me solidarizo com ela”.
“Sou ateu, MAS…” A continuação é quase sempre inútil, niilista ou —
pior — coberta por uma negatividade exultante. No te, aliás, a diferença em
relação a outro gênero favorito: “Eu era ateu, mas…”. Esse é um dos truques
mais velhos no livro, adotado por apologistas da religião desde C. S. Lewis
até hoje. Serve para dar logo de cara uma sensação de credibilidade, e é
incrível como funciona tantas vezes. Fique de olho.
Escrevi um artigo para o site RichardDawkins.net chamado “Sou ateu,
MAS…”, e tirei dele a lista a seguir de pontos críticos ou negativos das
resenhas da edição em capa dura. O mesmo site, dirigido pelo inspirado Josh
Timonen, atraiu um número enorme de colaboradores que desentranharam
todas essas críticas, mas em tons menos comedidos e mais diretos que o
meu, ou que o dos meus colegas filósofos A. C. Grayling, Daniel Dennett,
Paul Kurtz e outros que o fizeram através da mídia impressa.
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NÃO SE PODE CRITICAR A RELIGIÃO SEM UMA ANÁLISE DETALHADA DE
LIVROS ERUDITOS DE TEOLOGIA.
Best-seller-surpresa? Se eu tivesse me embrenhado, como um crítico
intelectual consciente gostaria, nas diferenças epistemológicas entre Aquino
e Duns Scotus; se tivesse feito jus a Erígena na questão da subjetividade, a
Rahner na da graça ou a Moltmann na da esperança (como ele esperou em
vão que eu fizesse), meu…