É Assim Que Acaba

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Para o meu pai, que deu o seu melhor
para não ser o seu pior.
E para a minha mãe, que garantiu
que nunca o víssemos no seu pior.

Primeira Parte

9
Capítulo Um
Aqui sentada, com uma perna de cada lado do parapeito, a olhar para
baixo, 12 andares acima das ruas de Boston, não consigo deixar de pensar
em suicídio.
Não no meu. Gosto da minha vida o suficiente para querer ficar por
cá até ao fim.
Penso, sim, nas outras pessoas, e em como elas acabam por tomar
a decisão de simplesmente pôr fim às suas vidas. Será que se arrependem?
Entre o momento em que se deixam ir e o segundo antes do impacto deve­rá
haver nem que seja um ínfimo remorso naquela breve queda livre. Será
que olham para o chão à medida que este se aproxima cada vez mais
e pensam «Oh, raios, isto não foi uma boa ideia»?
Vá-se lá saber porquê, creio que não.
Penso muitas vezes sobre a morte. Sobretudo hoje, tendo em conta
que, ainda há apenas 12 horas, acabei de fazer um dos elogios fúnebres
mais épicos a que alguma vez o povo de Plethora, no Maine, terá assistido.
Pronto, talvez não tenha sido o mais épico. Poderá, no entanto, perfeita-
mente ser considerado o mais desastroso. Creio que dependerá da pessoa
a quem se perguntar, se à minha mãe, se a mim. A minha mãe, que talvez não
me volte a dirigir a palavra durante um ano inteiro depois do que aconteceu hoje.Vejamos se me faço entender; o elogio fúnebre que fiz não foi suficien­
te­mente profundo para fazer história, como o que Brooke Shields fez no
funeral de Michael Jackson. Ou o que foi feito pela irmã de Steve Jobs.
Ou pelo irmão de Pat Tillman. Mas foi épico à sua maneira.
De início, estava nervosa. Afinal de contas, era o funeral do prodigioso
Andrew Bloom. O adorado mayor de Plethora, a minha terra natal. Dono
da mais bem-sucedida agência imobiliária dentro dos limites da cidade.

COLLEEN HOOVER 10
Marido da muito adorada Jenny Bloom, a mais reverenciada assistente
educativa em toda a cidade de Plethora. E pai de Lily Bloom — aquela estranha
rapariga com o inusitado cabelo ruivo que certa vez se apaixonou por um
sem-abrigo, lançando assim o labéu da vergonha sobre toda a sua família.
Essa rapariga sou eu. Chamo-me Lily Bloom, e o Andrew era o meu pai.
Assim que acabei de realizar o elogio fúnebre hoje, apanhei um voo
direto de regresso a Boston e tomei de assalto o primeiro telhado que conse-
gui encontrar. Uma vez mais, não o fiz por ter tendências suicidas. Não tenho
a mínima intenção de me atirar deste telhado. Na realidade, só precisava
mesmo de apanhar ar fresco e do silêncio, e, raios me partam, a verdade
é que não o posso fazer no apartamento onde moro, que fica num terceiro
andar sem qualquer acesso ao telhado do prédio. Ainda por cima partilhado
com uma companheira que gosta de se ouvir cantar.
No entanto, não levei em consideração o frio que aqui iria estar.
Não é insuportável, mas também não é confortável. Ao menos consigo
ver as estrelas. Pais mortos, companheiras de quarto exasperantes, e elo-
gios fúnebres questionáveis não parecem assim tão maus quando o céu
noturno se apresenta claro o suficiente para literalmente se poder sentir
a grandeza do Universo.
Adoro quando o céu me faz sentir insignificante.
Gosto de hoje à noite.
Bem… Deixem-me reformular isto no pretérito, de modo a refletir mais
apropriadamente o que sinto.
Gostei desta noite.
No entanto, e infelizmente para mim, a porta acabou de ser aberta
com um tal encontrão que quase fico à…

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