meditacoes marco aurelio

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Meditações
Marco Aurélio
(Imperador Romano)
Índice

Marco Aurélio
Meditações

Versão portuguesa
baseada na tradução inglesa do original, com o
título
MEDITATIONS,
de autoria de MAXWELL STANIFORTH
Edição da Penguin Books

Tradução e Tratamento em Computador
Luís A. P. Varela Pinto
Processado em computador (ambiente Macintosh) com recurso às
seguintes aplicações:
Processamento de texto:
Microsoft Word 98
Composição e paginação:
Adobe PageMaker 6.5
* * *
Esta versão electrónica, foi executada com o
Adobe Acrobat 4 em Janeiro de 2002
Espinho, Portugal
2002

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Índice
Introdução……………………………. 11
Hino de Cleanthes ……………………… 23
Nota do Tradutor da versão inglesa ……….25
LIVRO 1………………………………. 29
LIVRO 2………………………………. 35
LIVRO 3………………………………. 41
LIVRO 4………………………………. 47
LIVRO 5………………………………. 57
LIVRO 6………………………………. 67
LIVRO 7………………………………. 77
LIVRO 8………………………………. 87
LIVRO 9………………………………. 97
LIVRO 10…………………………….. 107
LIVRO 11…………………………….. 117
LIVRO 12…………………………….. 125
Notas……………………………….. 133

«Enquanto os homens continuarem a ser atraídos pelas
lágrimas e triunfos da bondade humana, não faltarão leitores
a Marco Aurélio. Melancólico, compassivo e desencantado, o
último dos Estóicos ainda envergonha as nossas fraquezas e
silencia a nossa insatisfação.»
Maxwell Staniforth
na Introdução

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Introdução
As Meditações de Marco Aurélio eram uma leitura muito na moda há duas
gerações. Era o tempo em que o catálogo de qualquer bom editor incluía sempre
uma elegante colecção de bolso dos clássicos; e, de entre estas, poucas haveria
em que não aparecessem as Meditações. A voga já passou, mas talvez explique
a razão por que o livro ainda é conhecido de nome por tanta gente, muito
embora o conhecimento do seu conteúdo seja mais raro do que foi outrora. De
facto, quando uma pessoa escolhe este livro, pode muito bem perguntar-se, «De
que é que tratará? Que assuntos irei encontrar lá dentro?» Devo, por isso, e
desde já, prevenir o leitor de que não pode esperar encontrar nele qualquer tema
continuado ou conexo. Trata-se apenas do diário ou “livro de apontamentos”
onde Marco Aurélio, de tempos a tempos, registava qualquer coisa que lhe
parecesse merecer a pena guardar. Ora regista um pensamento sugerido por
qualquer acontecimento recente ou encontro pessoal; ora medita sobre os
mistérios da vida e da morte do homem; ora recorda uma máxima prática para o
auto-aperfeiçoamento, ora transcreve das suas leituras do dia um pensamento
de que gostou particularmente. Todos estes assuntos, e uma grande variedade
de outros, são registados à medida que ocorreram ao escritor. O leitor pode
iniciar a leitura do livro ou interrompê-la em qualquer ponto à sua escolha, e ler
tantas ou tão poucas entradas quanto lhe apeteça. Em resumo, Marco deu-nos
um excelente livro para ter na mesa de cabeceira.
Os bibliotecários catalogam geralmente as Meditações, e sem dúvida bem, como
“Filosofia”; mas isto pode induzir o leitor em erro, a menos que compreenda o
lugar que a filosofia ocupava na antiguidade. Daquilo que ele conhece dos
escritos dos representantes do século vinte deste ramo do saber, é pouco
provável que conclua que o seu objectivo principal e final é a obtenção da virtude
pessoal. Isso, imagina ele, é do foro da religião, não da filosofia. Mas na
Antiguidade Clássica as coisas eram diferentes. A moralidade, a vida sã, as
relações do homem com os deuses — tudo isto era do foro do filósofo e não do
do sacerdote. A religião romana, no tempo do Império, não tinha nada a ver com
os problemas morais. A sua função era simplesmente a da execução dos rituais
que assegurassem a protecção dos deuses por parte do Estado, ou evitassem
os efeitos do seu descontentamento. Era um sistema formal de cerimónias
públicas realizadas por funcionários do Estado, e não dava resposta às dúvidas
e dificuldades da alma humana. Contudo, então, como agora, o homem sentia-
se perplexo perante as grandes questões que são preocupação de todos nós.
Qual é a composição deste universo que nos rodeia, e como é que ele
apareceu? Teria sido fruto de um acaso cego, ou da sábia Providência? Se os
deuses existem, será que eles se interessam pelas coisas dos mortais? Qual é a
natureza do homem, e qual o seu dever aqui, e o seu destino no além-túmulo?
Não eram os sacerdotes, mas os filósofos, que se reclamavam da competência
para dar resposta a estas questões. É verdade que as suas respostas não eram
unânimes; havia sistemas filosóficos rivais, e cada um oferecia a sua própria
solução (como, aliás, as diferentes religiões do mundo ainda fazem); mas todos
concordavam que só à filosofia pertencia o direito exclusivo de se pronunciar

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com autoridade nos campos da metafísica, da teologia e da ética. Ela era
considerada competente para explicar a história da criação, definir os poderes
invisíveis por detrás da ordem do mundo, interpretar a natureza e o sentido da
existência humana, prescrever as regras para uma vida sã, e revelar o futuro
além-túmulo. Assim, a filosofia ocupava o lugar que, nos nossos dias, é ocupado
pela religião, como instrutora e guia das almas em cada estádio das suas
peregrinações terrenas. Esta pretensão justifica-se especialmente no caso do
Estoicismo, que era marcado por um carácter mais religioso do que qualquer
outro sistema da Antiguidade. Como o historiador Lecky observa, «O Estoicismo
tornou-se a religião das classes instruídas. Ele fornecia os princípios da virtude,
dava cor à mais nobre literatura da época, e guiava todos os desenvolvimentos
do fervor moral».*
O que isto significa é que um leitor que queira fazer uma abordagem correcta do
pensamento de Marco Aurélio deve levar em linha de conta que as frequentes
alusões do imperador à “filosofia” têm sempre o tipo de implicações que nós hoje
associamos à palavra religião. Porque filosofia, para o homem que escreveu
estas Meditações, significava tudo o que uma religião pode significar. Não era a
procura de verdades abstractas, era uma regra para a vida. Em certo sentido,
este livro é um verdadeiro manual de devoção pessoal, como A Imitação de
Cristo de Thomas à Kempis — com o qual tem sido frequentemente comparado,
e que, de facto, é a sua contrapartida cristã.
A Filosofia Estóica
O Estoicismo, o sistema filosófico em que Marco acreditava, foi, na sua origem,
um produto do pensamento do Médio Oriente. Tinha sido fundado uns trezentos
anos antes de Cristo por Zenão, oriundo de Citium (hoje Larnaka) em Chipre, e
recebeu o seu nome da “Stoa” ou colonata, em Atenas, onde ele costumava
dissertar. O seu principal discípulo foi Cleanthes, que por sua vez foi continuado
por Chrysipo; e os sucessivos trabalhos destes três homens, que depois foram
venerados como os “pais fundadores“ do Estoicismo, resultaram na formação de
um esquema de doutrina que abarcava «todas as coisas divinas e humanas». As
três palavras-chave do credo de Zenão eram materialismo, monismo e mutação.
Ou seja, ele considerava que tudo no universo — mesmo o tempo, mesmo o
pensamento — tem uma qualquer espécie de substância corpórea
(materialismo); que, em última análise, tudo se pode resumir a um simples
princípio unificador (monismo); e que tudo está em perpétuo processo de
mudança e a transformar-se em qualquer coisa diferente daquilo que antes era
(mutação). Estes três dogmas foram os alicerces sobre os quais Zenão construiu
toda a estrutura. A sua intransigente insistência nestes princípios levou-o por
vezes a expor ideias perfeitamente indefensáveis; mas, nas mãos dos seus
seguidores, as mais rígidas asserções do fundador foram modificadas e
suavizadas de maneira a torná-las aceitáveis para os pensadores de espírito
mais realista.

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Quando o Estoicismo passou do Oriente para o Ocidente e foi introduzido no
mundo romano, assumiu um aspecto diferente. Foram os elementos morais dos
ensinamentos de Zenão que aqui despertaram mais atenção, e o seu valor
prático foi prontamente apreciado. Um código que era humano, racional e
moderado, um código que insistia num procedimento justo e virtuoso, na auto-
disciplina, numa força moral inabalável e numa completa libertação das
tempestades da paixão adequava-se admiravelmente ao carácter romano. E
consequentemente a reputação e influência do Estoicismo aumentou
invariavelmente ao longo dos séculos que assistiram ao declínio da república e
ao nascimento do principado; e por altura da ascensão de Marco Aurélio ao
trono, tinha já atingido o ponto mais alto da sua supremacia. As suas
concepções e a sua terminologia eram agora familiares aos homens e mulheres
instruídos de todas as cidades importantes do Império
Os Estóicos definiam a filosofia como «luta pela sabedoria»; e “sabedoria“, por
sua vez, era definida como «conhecimento das coisas divinas e humanas».
Dividiam este conhecimento em três ramos: a Lógica, a Física e a Ética.* Uma
vez que o primeiro requisito para a procura da verdade é um pensamento claro e
rigoroso, que, por sua vez, depende de um uso preciso das palavras e um
vocabulário de termos técnicos, o estudo inicial era a Lógica. Depois vinha a
investigação dos fenómenos naturais e das leis da natureza. E esta estendia-se
até à interpretação metafísica do universo; pois, no esquema estóico, a Física
incluía o estudo completo do Ser na sua tripla manifestação: o próprio homem, o
universo criado à sua volta, e Deus. Por fim, colocado no lugar mais elevado e
importante do sistema, vinha a Ética. Pois a verdadeira função da filosofia, o
ponto para o qual convergiam todas as questões e ao qual estavam
subordinados todos os ramos do conhecimento, era a própria conduta do
homem, definida numa palavra, “virtude“. Como diz Diogenes Laertius, «eles
comparam a filosofia a uma criatura vivente; os ossos e músculos correspondem
à Lógica, a carne à Ética, e a alma à Física. Comparam-na também a um campo
produtivo, do qual a Lógica é a vedação circundante, a Ética, a colheita que ela
encerra, e a Física, o solo».† Convém resumir brevemente os seus
ensinamentos sobre estes três pontos.
(a) A Lógica. No sector da Lógica, tudo o que o leitor de Marco Aurélio precisa
de saber é a teoria do conhecimento dos Estóicos e os meios de atingir esse
conhecimento. No seu sistema, o conhecimento começa com impressões, que
são produzidas pelo impacto das coisas ou…

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