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“Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando
por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo
nível.”
HERMANN HESSE
DEMIAN
Tradução de IVO BARROSO
22ª EDIÇÃO
Título original alemão DEMIAN
Copyright © 1925 by Hermann Hesse
Todos os direitos reservados por Suhrkamp Verlag, Frankfurt am Main
Desde seus primeiros livros Hesse conquistou um lugar certo ao lado dos maiores
autores alemães de seu tempo e, com a tradução de suas obras para idiomas
estrangeiros, tornou-se um nome consagrado em todo o mundo. Um fato a
destacar foi o verdadeiro fascínio que o idealista escritor exerceu sobre as
gerações posteriores à I Guerra Mundial, inquietas e perdidas em contradições.
Em Demian o autor narra, com grande sentido humanitário, o crescimento para a
maturidade de Emil Sinclair, que sucumbe à influência de Max Demian, uma
figura estranhamente possessiva. À medida que Sinclair progredia, através de
uma educação ortodoxa e um misticismo filosófico que o encaminhavam em
direção ao estado de autocompreensão, ele tinha sempre diante de si a imagem
de Demian… até chegarem ao clímax de uma confrontação com o destino num
sangrento campo de batalha.
Consideram muitos críticos internacionais que, pelo poder que teve de influenciar
tantas gerações de leitores, Demian é das obras mais importantes de toda a
bibliografia do excepcional escritor.
Obras do autor
A ARTE DO OCIOSOS
CAMINHADA
CORRESPONDÊNCIA ENTRE AMIGOS (Com Thomas Mann) DEBAIXO DAS
RODAS
DEMIAN
ESTE LADO DA VIDA
GERTRUD
HISTÓRIAS MEDIEVAIS
O JOGO DAS CONTAS DE VIDRO
KNULP
O LIVRO DAS FÁBULAS
O LOBO DA ESTEPE
MENINO PRODÍGIO
MINHA FÉ
NARCISO E GOLDMUND
NARRATIVAS
OBSTINAÇÃO
PARA LER E GUARDAR
PARA LER E PENSAR
PEQUENAS ALEGRIAS
PEQUENO MUNDO
ROSSHALDE
SIDARTA
SOBRE A GUERRA E A PAZ
SONHO DE UMA FLAUTA E OUTROS CONTOS
TRANSFORMAÇÕES
O ÚLTIMO VERÃO DE KLINGSOR
VIAGEM AO ORIENTE
VIVÊNCIAS
Este romance de Hermann Hesse, que tão decisiva influência exerceu sobre
toda uma geração há várias décadas, como todas as obras-primas tem uma
mensagem de perene interesse. No consenso da crítica literária internacional, o
mais espetacular sucesso de Hesse e um dos maiores livros deste século.
Nota do tradutor
Demian, escrito em 1919, é o primeiro grande livro de Hermann Hesse no
caminho que o conduz a Der Steppenwolf (O Lobo da Estepe) — sua indiscutível
obra-prima de 1927 — e do qual Sidarta, que aparece em 1922, constitui a etapa
intermediária. Pode-se dizer que o Harry Haller, de O Lobo da Estepe, é o Emil
Sinclair, de Demian, na maturidade.
O arranque representado por Demian é, entretanto, mais significativo se se
tem em conta seu valor de quebra-diques na própria contenção formal e emotiva
da obra de Hesse. Até então, a despeito dos gritos convencionais de revolta contra
a educação coercitiva do novecentismo germânico, representados por Peter
Kamenzind (1904) e Unterm Rad (Debaixo das Rodas — 1906), seus escritos
estratificam o burilar correto e neo-romântico de um mestre-escola provinciano,
pontilhado de descrições de um gosto artífice, mas onde o olhar se coloca numa
posição alpina, de contemplação para baixo, paisagística. É exatamente com
Demian que o enfoque se modifica: a contemplação se volta para si mesma e vai
buscar no interior do próprio personagem a visão multilatitudinal do mundo; a
perspectiva se intromete na própria vivência autobiográfica e o autor ousa ser ele
e proclamar sua mensagem. Esse novo elemento até então ausente da obra
literária de Hesse transforma por completo sua essência: de estilista requintado,
mas restrito, se torna um dos valores mais originais e profundamente humanos da
literatura alemã da primeira metade do século.
“Quem quiser nascer tem que destruir um mundo” — eis a mensagem —
destruir no sentido de romper com o passado e as tradições já mortas, de
desvincular-se do meio excessivamente cômodo e seguro da infância para a
conseqüente dolorosa busca da própria razão de existir: ser é ousar ser — o que
Gide levaria às últimas conseqüências em sua obra, marcadamente em Os
Subterrâneos do Vaticano. O conflito entre a dualidade “mundo luminoso” (ideal)
e “mundo sombrio” (real) por que tem de passar Sinclair para o encontro ou a
edificação de sua personalidade é o tema central do livro; tema que se teria
prestado, como inúmeras obras românticas da época, a um estado sentimental de
rebeldia, infrutífero e estanque, no qual essa dualidade de impulsos não conduz a
qualquer síntese ou solução, mas que em Hesse, entretanto, se equaciona “na
aceitação e na afirmação da própria personalidade em toda a sua humana
plenitude de tendências antitéticas e inconciliáveis, inevitavelmente coexistentes
num trágico dinamismo psíquico”. E ainda mais que uma história ou romance de
educação é o relato de um processo de deseducação, ou preferindo-se, de
reeducação de laborioso apagar das pegadas que o puritanismo educacional deixa
impressas na alma adolescente: a timidez, a humildade, o alheamento — armas
obsoletas com a hostilidade do mundo real — e que conduzem, mais tarde,
inapelavelmente à solidão e à inadaptabilidade, à surda revolta e ao amargo
constrangimento.
O livro reflete, obviamente, a tendência do introduzir na literatura a doutrina
de Freud, que estava na ordem do dia, e da qual Hesse era um apaixonado
estudioso, tendo-se posto inclusive aos cuidados do Dr. J. B. Lang, psicanalista de
Lucerna, quando vítima de crise de neurastenia que lhe sobreveio após a
Primeira Guerra Mundial. Daí a presença constante do onirismo na obra, de um
certo entrevelado complexo de Édipo (aqui exposto através de um sutil
mecanismo de transferência), de permeio com reminiscência de estudos de
ciências antigas e herméticas, auridos na intimidade da biblioteca do avô
materno.
No caso de Hesse, mais do que na maioria dos autores, um conhecimento
biográfico se faz necessário à boa compreensão dos elementos surpreendentes de
sua natureza. Descendente de família suábia, criado no mais rígido rigorismo
religioso — o pai, erudito famoso de história religiosa; a mãe, filha de
missionário, nascida e educada na índia; o avô, Hermann Gundert, indianista de
renome — Hermann Hesse nasce em 2 de julho de 1877, em Calw, pequena
cidade do Wurtemberg, na Floresta Negra. Desde logo destinado à carreira
eclesiástica, passa pela levedura espiritual e a constrição educativa de quatro
seminários, donde egressa para tornar-se aprendiz de relojoeiro e, mais tarde,
auxiliar de livraria, em Basiléia e Tübingen.
Essa reação à vida religiosa -e firme obstinação de se tornar poeta (aos treze
anos tinha por divisa: “serei poeta ou nada”) é explicada por seu biógrafo, Hugo
Bali, como uma fixação pela poderosa personalidade de sua mãe, contista de
sensibilidade, cuja figura (“bela voz clara e sonora”) imprime-se na alma do
jovem de maneira tão marcante quanto a imagem da “mulher ideal”. O contato
com o mundo livreiro proporciona-lhe a oportunidade de publicar, em 1899, seus
Romantische Lieder, (Cantos Românticos) e, cinco anos mais tarde, sua primeira
novela, Peter Kamenzind, que logo alcançou numerosas edições, permitindo ao
poeta libertar-se da ocupação burguesa para entregar-se exclusivamente à
literatura. Nesse mesmo ano (1904), transfere-se com a primeira esposa para
Gaenhofen, às margens do lago Constança, na fronteira germano – suíça. Data
dessa época sua colaboração na revista März, de Munique, cujo diretor Theodor
Heuus, combate o poder pessoal de Guilherme II; os artigos de Hesse, entretanto,
correspondem mais a uma atitude democrática e liberal, do que a um
compromisso partidário, o que nunca teve.
Em 1911, “por necessidade interior”, empreende uma viagem à índia, berço
de sua mãe, e que exerce sobre ele a atração de uma pátria espiritual e
misteriosa; a viagem, entretanto, não lhe proporciona o esperado deleite. Em
1914, transfere-se para Berna, onde vai surpreendê-lo a declaração de guerra,
em relação à qual Hesse assume, desde o inicio, uma atitude intelectual de
absoluta neutralidade. O entusiasmo guerreiro de seus compatriotas poetas leva-o
a escrever o artigo “Ò amigos, abstende-vos desse tom”, que lhe. acarreta uma
onda de incompreensão e repulsa semelhante à que avassalou Romain Rolland.
Data dessa época sua crise nervosa, decorrente não só da conturbada situação
mundial, mas ainda do agravamento da enfermidade psíquica da esposa. A
separação do casal é inevitável. Hesse fixa-se ao sul dos Alpes e descobre em
1919 a Colina D. Oro, a sudoeste de Lugano. Nessa fase, excursiona pela pintura,
fazendo aquarelas, e o trato com as cores vai impressionar vivamente sua obra,
transparecendo inclusive nas páginas deste livro. Data dessa época também o
encontro de sua segunda esposa, Ruth, vínculo que teve, aliás, breve duração. Em
1923, adota a cidadania suíça e encontra finalmente tranqüilidade, junto à
terceira esposa, para empreender a obra principal de sua vida, coroada com o
aparecimento, em 1943, de Das Glasperlenspiel (O Jogo das Contas de Vidro),
onde expressa um apurado conhecimento musical.
Durante os anos da Segunda Grande Guerra, acolhe refugiados do regime
nazista e encontra as portas literárias da Alemanha novamente fechadas para a
sua obra. Em 1946, obtém o prêmio Nobel de Literatura, principalmente em
razão de sua obra poética, mas a saúde débil não lhe permite ir a Estocolmo
recebê-lo pessoalmente. Falece em 1962, aos 85 anos de idade.
De posse desses elementos, fácil nos é perceber quanto as figuras de Sinclair,
Demian e Pistórius encerram do próprio Hesse, não passando de sínteses ou
projeções de suas vivências. Sinclair, mais do que todos, é o êmulo real do autor:
a mesma infância,…