A Aventura das Aranhas

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Autora: Sandra Aymone
Ilustrações: Estúdio Pandora

Copyright© 2019. Fundação Educar DPaschoal. A reprodução de textos e imagens 
é permitida para finalidades não comerciais e com citação da fonte.
Esta obra foi impressa na Santa Edwiges Artes Gráficas, em papel cartão (capa) e papel couché (miolo). 
Esta é a 1ª edição, datada de 2019, com tiragem de 3.000 exemplares. (PRONAC: 1414380 – Cultura em páginas)
Fundação Educar DPaschoal – (19) 3728-8129REALIZAÇÃO:
Sâmia RiosREVISÃO:
Estúdio PandoraPROJETO GRÁFICO: 
Sandra AymoneAUTORA: 
COLABORAÇÃO: 
Adler Felipe C. Leite, Camila C. 
Figueiredo, Carolina Baldin Meira, Cristiane A. 
Stefanelli, Isabela Pascoal Becker, Leticia Bianca F. 
Talassi, Simone Barbosa dos Santos
Juliana Furlanetti
COORDENAÇÃO EDITORIAL: 

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Agência Brasileira do ISBN – Bibliotecária Priscila Pena Machado CRB-7/6971

A982 Aymone, Sandra.
A aventura das aranhas e outras fábulas / Sandra
Aymone ; ilustrações Estúdio Pandora. —— Campinas :
Fundação Educar DPaschoal, 2019.
44 p. : il. ; 21 cm.

ISBN 978-85-7694-283-2

1. Literatura infantojuvenil. 2. Fábulas. 3. Cultura.
I. Estúdio Pandora. II. Título.

CDD 808.899282

Esta obra foi impressa na Gráfica Editora Silvamarts Ltda., em papel cartão (capa) e papel couché (miolo). Esta é a 
1ª edição, datada de 2019, com tiragem de 3.000 exemplares. (PRONAC: 1414380 – Cultura em páginas)

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Em um universo repleto de estímulos e mudanças, não há como 
fazer de conta que os medos não existem. Cada nova situação que 
surge sempre é uma fonte de novos questionamentos, que incluem a 
nem sempre fácil decisão sobre qual o melhor caminho a percorrer.
As fábulas carregam símbolos que levam a criança à autodescoberta, 
à resolução de confitos internos e à formação de caráter. Quando ela 
faz associações, do livro para sua vida, ela passa de leitora a personagem 
principal de sua própria história, um protagonista fortalecido em sua 
capacidade de ver, compreender e analisar o mundo à sua volta.
O ponto de referência para a construção deste conjunto de histórias 
foi os princípios do Relatório da Comissão Internacional sobre 
Educação para o Século XXI elaborado para a UNESCO, denominado 
“Educação: Um Tesouro a Descobrir”. Esses princípios, conhecidos 
como “Os Quatro Pilares da Educação” são: Aprender a ser, aprender a 
conviver, aprender a conhecer e aprender a fazer. Para nós, aprender a ser é 
desenvolver o autoconhecimento por meio do pensamento crítico, 
tendo em mente um sentido ético perante a sociedade; aprender 
a conviver é desenvolver habilidades de cooperação em todos 
os tipos de atividades humanas;  aprender a aprender é adquirir 
estratégias de compreensão de novos saberes, e, fnalmente, 
aprender a fazer é desenvolver habilidades que permitam colocar 
em prática a teoria estudada.
A intenção é que este livro seja uma ferramenta de auxílio para 
uma educação capaz de desenvolver competências e habilidades 
socioemocionais por meio de uma leitura prazerosa.
Entretanto, muito além do conhecimento que possa nos 
transmitir, para que se torne inesquecível, uma fábula precisa 
tocar nossa emoção. E para que tudo isso chegue ao coração de 
uma criança, é importante que ela sinta que não está sozinha e que 
alguém lhe conte a história…  Alguém que ouça o convite que ela 
faz: “Leia Comigo!”
Sandra Aymone e 
Fundação Educar DPaschoal
AO CONTADOR DE 
HISTÓRIA

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No quintal de uma casa, viviam duas aranhas que 
eram irmãs, Lina e Teca. Já estavam crescidas, e chegava 
a hora de terem teia própria. Como as duas eram muito 
amigas, apesar de pensarem diferente sobre quase tudo, 
decidiram morar juntas. Saíram, então, à procura de um 
bom lugar para sua nova teia.
Lina não tinha pensado sobre o assunto, mas Teca 
tinha paixão pela luz e pelo calor do sol, e propôs à irmã:
— Vamos morar no Sol? Talvez seja longe, mas 
aposto que nunca uma aranha chegou lá! Vale o desafo! 
Seremos as primeiras!
Lina achou a ideia meio louca, mas, como tinha 
preguiça de pensar, e mais ainda de discutir, aceitou a 
proposta de Teca.
No dia seguinte, bem cedo, as duas aranhas 
começaram sua tarefa. A ideia de Teca era prenderem os 
fos da teia em lugares cada vez mais altos, até chegarem 
ao Sol. Ela disse:
— Primeiro, vamos subir nesta árvore bem alta, para 
começar nosso trabalho lá em cima. Deve ser uma 
macieira, pois está cheia de frutos vermelhinhos…
A AVENTURA 
DAS ARANHAS

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Para a aranha, tão pequenina, um simples pé de 
tomate que havia na horta da casa, carregado de frutos, 
parecia uma grande árvore.
Lina duvidou que aquilo fosse mesmo uma macieira, 
mas, como não tinha interesse por plantas, seguiu Teca.
Quando chegaram lá em cima, prenderam a teia na 
folha mais alta e continuaram sua subida. As aranhas 
e seus fos eram tão leves que qualquer ventinho fazia 
com que futuassem e subissem no ar.
— Agora vamos levar os fos até o topo daquela 
montanha enorme que estou vendo daqui — disse Teca.
A “montanha” que a aranha estava vendo não passava 
de um montinho de areia que tinha fcado no quintal 
depois de uma obra na casa.
Com muito esforço, e levando quase o dia inteiro, as 
aranhas alcançaram o topo do monte.
— Queria só ver a cara de quem duvidou de nós! — 
disse Teca, orgulhosa. — Aposto que uma aranha nunca 
chegou tão alto!
Lina achava que a irmã estava exagerando. Enquanto Teca 
dava pulos de alegria, ela só conseguia se sentir cansada. A 
noite tinha chegado, e as duas trataram de dormir.

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Quando acordaram de manhã, a dona da casa já tinha 
pendurado no varal alguns lençóis e fronhas brancos, 
que balançavam ao vento.
— Quem diria! — disse Teca ao vê-los. — Já estamos bem 
perto das nuvens! Como são branquinhas! Vamos até lá!
Lina achou aquilo mais parecido com… panos. Mas 
não tinha outra sugestão para dar e seguiu a irmã.
Algum tempo depois, conseguiram prender os fos 
num lençol.
Teca fez mais uma descoberta:
— Eu sempre quis saber como as nuvens fcavam 
presas no céu sem cair. Agora já sei que elas fcam 
penduradas nessa corda comprida. Acho que estou 
fcando a aranha mais sabida do mundo!
Como um dos lençóis estava recém-lavado, pingando 
água, ela fcou encantada ao ver, de pertinho, “uma 
nuvem chovendo”… 
Depois de descansarem um pouco nas nuvens-lençóis, 
as aranhas recomeçaram a subida. A certa altura, Teca 
exclamou:
— Que beleza! Já estou vendo o Sol bem perto! Hoje 
mesmo a gente chega lá!
Na verdade, o “sol” que ela estava vendo era a lâmpada 
de uma luminária presa na parede, perto do telhado, que 
alguém tinha esquecido acesa.
Já estava anoitecendo novamente. Depois de subirem 
bastante, pararam para descansar. Naquele momento, 

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um bando de vaga-lumes apareceu, piscando suas 
luzes. Lina fcou assustada, mas Teca achou lindo! 
Exclamou:
— Estamos tão perto das estrelas do céu, que quase 
pude tocar em uma! Ou será que não são estrelas? 
Estão se movendo. Acho que são cometas!
Continuaram subindo mais e mais, até que chegaram 
bem perto da lâmpada. A luz, cada vez mais forte, feriu 
seus olhos. Dessa vez, Lina abandonou sua apatia, 
decidiu raciocinar e disse: 
— Mana, se o Sol já ilumina tudo lá no chão, imagine 
perto dele! É luz demais, não vamos conseguir enxergar 
nada direito! Desculpe, mas acho que aqui não é lugar 
bom para se morar. Vamos pensar em outra coisa?
Teca refetiu sobre as palavras de Lina e teve de 
concordar. O sentimento de frustração por não poder 
realizar seu sonho fcou mais leve, por ver a mana, 
enfm, participar das decisões!
Naquele momento, uma mariposinha, dessas que 
voam em torno das lâmpadas, não viu as aranhas e 
chocou-se contra as duas, fazendo-as cair. Teca gritou:
— Socorro! Uma nave espacial atropelou a gente!

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As duas aranhas caíram bem em cima de uma 
velha bola branca, de plástico, que as crianças da casa 
tinham esquecido sobre uma pilha de caixotes.
Passado o susto, Teca olhou em volta e exclamou:
— Que maravilha, mana! Fomos cair bem em cima 
da Lua! 
Lina exclamou:
— Isso, sim, é um lugar bom para se morar! — E, 
comovida, beijou a irmã, acrescentando em seguida: — 
Obrigada, mana! Essa aventura me ensinou tanta coisa 
nova! Sua imaginação, suas ideias e sua alegria me 
contagiaram! Quando enjoarmos da Lua, eu é que vou 
escolher o próximo lugar. 
E começou a olhar em volta para ter uma ideia. 
Nesse momento — bzzzzzzzzz! — um besouro passou 
voando. Lina sorriu para Teca e completou:
— Mas, dessa vez, não vamos nos cansar tanto. 
Vamos viajar num avião igual a esse que passou!
E as duas se abraçaram, sorrindo.
A criatividade resolve problemas e dá mais cor à vida!

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Era uma vez duas capivaras muito amigas, que 
moravam no campo. Cada uma tinha sua casa, mas 
trabalhavam juntas, cultivando feijão.
Desde a hora em que o sol nascia até a noite, as duas 
passavam trabalhando, parando apenas, mas por pouco 
tempo, na hora das refeições. 
Roçavam a terra, aravam, semeavam, numa rotina 
diária muito difícil e exaustiva. E sabiam que, mesmo 
assim, tanto trabalho não era garantia de sucesso. 
Dependiam dos ventos, do sol e da chuva na medida 
certa para que as sementes germinassem, as plantas 
crescessem, e elas, fnalmente, pudessem colher o 
resultado de tanto esforço.
Nos anos anteriores, tinha chovido demais ou tinha 
chovido de menos, ou o vento excessivo tinha ressecado a 
terra, de modo que a colheita sempre fcava muito abaixo 
do esperado. Mas as duas não desistiram. Uma apoiava a 
outra, e animavam-se mutuamente com frases otimistas:
— Este ano vai dar certo!
— Vai, sim! Vamos trabalhar mais depressa, pra não 
perder a estação das chuvas!
DUPLO SILÊNCIO  
CONTO INSPIRADO EM UMA LENDA JUDAICA‡

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Até que, fnalmente, chegou a grande colheita! Tudo 
o que tinham plantado cresceu e brotou com força! 
As vagens de feijão se multiplicavam diante dos seus 
olhos. As amigas capivaras viram, enfm, seu esforço ser 
recompensado! Uma delas comentou, eufórica:
— Deu tudo certo! Desta vez vamos fazer ótimos 
negócios na cidade! 
— Vamos poder trocar nosso feijão por todos os outros 
produtos de que precisamos! — completou a outra.
Com paciência, esperaram o momento certo da 
colheita, quando as vagens já estão secas, como palha. 
Depois de colher, outro trabalhão: bater com bambus 
nas vagens, para separar os grãos da palha. Em seguida, 
limpar tudo e colocar o feijão em sacas.
Quando terminaram, dividiram por igual, e cada uma 
levou sua parte para casa.
À noite, já na cama, com o corpo dolorido do trabalho 
cansativo, uma das capivaras começou a pensar:
“Eu tenho uma família grande. Meus pais me ajudam 
sempre que preciso, tenho um marido que também 
trabalha duro, na construção de casas. Nossos flhos 

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são saudáveis. Eles me darão segurança durante toda 
a minha vida. Já a minha amiga vive sozinha, não tem 
família nem ninguém para apoiá-la. Com certeza, ela 
vai precisar muito mais dessa colheita do que eu, para 
construir um futuro seguro.”
Levantou-se em silêncio, para não acordar ninguém, 
colocou na carroça metade de suas sacas de feijão, 
acendeu uma lanterna e saiu pela estrada.
Ao mesmo tempo, em sua casa, a outra capivara não 
conseguia dormir. Pensava: 
“Para que preciso de tantas sacas de feijão, se não 
tenho ninguém para sustentar? Não tenho parentes, 
nem flhos, e não penso em me casar. As minhas 
necessidades são muito menores do que as da minha 
amiga, que ajuda seus pais e ainda tem flhos para 
criar.”
Feliz com a ideia que brotou desses pensamentos, e 
sem querer esperar nem um minuto mais, pulou da cama. 
Encheu a sua carroça com a metade de sua parte do feijão 
e saiu na madrugada, dirigindo-se à casa da outra.
Na estrada escura e deserta, viu, ao longe, uma luz. 
Outra carroça se aproximava. Quem seria, àquela hora, 
tão tarde da noite?
Cautelosa, a capivara parou e esperou para ver quem 
se aproximava.
Pouco tempo depois, a surpresa! As duas amigas 
estavam frente a frente!

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Rapidamente o espanto deu lugar a um sorriso 
carinhoso. Nenhuma das duas disse nada, mas ambas 
compreenderam tudo!
Desceram de suas carroças, aproximaram-se… e o 
luar iluminou o abraço da verdadeira amizade!
Amigo fel é proteção poderosa, e quem o encontrar terá 
encontrado um tesouro!

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Você conhece aquela música? 
De olhos vermelhos, 
de pelo branquinho, 
de pulo bem leve, 
eu sou o coelhinho.
Sou muito assustado, 
porém sou guloso: 
por uma cenoura 
já fco manhoso!
O coelhinho desta história era assim: branquinho, de 
olhos vermelhos e… assustado! E meio nervosinho. Mas 
também era prestativo, obediente e muito criativo.
Um dia, sua mãe pediu a ele que levasse um presente 
para o avô, que tinha acabado de se mudar. A casa dele 
fcava a algumas horas dali. A mãe explicou o caminho 
com todos os detalhes e completou:
— Prestando bem atenção, não tem como errar. Você 
vai passar por vários rios. 
O coelho já se assustou:
— Mas mamãe, eu não sei nadar… e não tenho barco!
O RIO SEM PONTE

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— Calma, meu flho! — sorriu a mãe. — Todos os rios 
têm ponte, não se preocupe.
No dia seguinte, cedinho, o coelho saiu, levando o 
presente. Era a primeira vez que ia tão longe sozinho, e 
estava um pouco ansioso com a aventura.
Depois de algum tempo de caminhada, encontrou o 
primeiro rio. Suas águas cristalinas corriam sem pressa, 
carregando folhas secas que pareciam barquinhos 
futuando sem destino. Logo o coelhinho avistou 
uma ponte de madeira, que atravessou sem nenhum 
problema.
Ao longo da manhã, foi sempre assim, sem muita 
novidade. Vários rios, várias pontes. Rios claros, rios 
escuros, alguns tranquilos, outros agitados. Pontes de 
madeira, de bambu, de tijolo…
Depois de algumas horas, ele sentiu fome. Parou e 
comeu o sanduíche de alface com cenoura que tinha 
levado. Descansou um pouco embaixo de uma árvore e 
logo retomou seu caminho.
Até que chegou a um rio de águas barrentas. Procurou a 
ponte, mas não encontrou. Procurou de novo. Em pouco 
tempo, percebeu que não havia ponte! Alarmou-se!

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— Como assim? Mamãe garantiu que todos os rios 
tinham ponte! Ela deve ter se quebrado e desaparecido 
na água! E agora?
Já afito, fcou tentando encontrar uma maneira de 
seguir viagem. Viu alguns sapos na beira do rio e teve 
uma ideia. Foi falar com eles, dizendo depressa: 
— Preciso atravessar o rio para levar um presente para 
o meu avô, mas não sei nadar, não tenho barco e aqui 
não tem ponte! Podem me fazer um favor? Chamem 
todos os sapos e deem as mãos, para eu passar por cima 
de vocês e chegar à outra margem!
Os sapos pularam na água, cantando:
— O coelho não lava o pé… 
não lava porque não quer!
E, rindo muito, sumiram de vista.
O coelho começou a andar rapidamente, de um lado 
para o outro, procurando uma solução. Então, olhou 
para uma árvore que havia na margem e teve outra 
ideia. Disse a ela, de um jeito ainda mais atropelado, 
misturando as palavras:
— Preciso atravessar o rio para nadar um presente 
para o meu avô, mas não sei levar, não tenho uma ponte 
e aqui não tem barco! Pode me fazer um favor? Deite 
seu tronco sobre o rio para eu passar por cima e chegar à 
outra margem!
A árvore não entendeu nada. Além do mais, estava 
bem enraizada no solo e não podia atender ao pedido do 
coelho.

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O coelho começou a puxar os bigodes de nervoso. E 
agora? Que problemão! Tinha que achar um jeito de 
atravessar o rio!
Avistou várias pedras perto dali e teve mais uma ideia. 
Aproximou-se delas e tentou pedir, embolando tudo: 
— Preciso nadar o barco para levar um presente para 
minha ponte, mas não sei atravessar, não tenho um rio e 
aqui não tem avô! Por favor, empilhem-se umas sobre as 
outras, para que eu possa passar! 
Parece que as pedras também não entenderam nada, 
porque nem se mexeram.
O coelho chegou ao ponto máximo do nervosismo. 
Revoltado por não conseguir ajuda, andava em círculos, 
sem saber o que fazer. Então viu que alguém se 
aproximava na outra margem do rio. Era uma garça.
Decidiu tentar novamente. Respirou fundo, acalmou-
se um tantinho e conseguiu falar duas frases sem 
misturar tudo:
— Ei, garça! Você pode me ajudar a atravessar esse rio? 
A garça fez uma cara intrigada, de quem não tinha 
entendido.
Ele gritou mais alto. A garça continuava não entendendo.
O coelho gritou com todas as suas forças:
— EI, GARÇA! VOCÊ PODE ME AJUDAR A 
ATRAVESSAR ESSE RIO?
Finalmente, a garça deu mostras de ter entendido e 
começou a caminhar em sua direção. Sem nenhuma 

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difculdade, ela atravessou o “rio”, que era só a água da 
chuva do dia anterior, descendo do morro, mas tão rasa 
que mal chegava às suas canelas!
Ela pegou o coelho pela pata e voltou com ele para o 
outro lado, cruzando, novamente, a enxurrada.
Ao chegarem lá, a garça disse:
— Está bem assim?
De boca aberta, o coelho não conseguia acreditar que 
quase tinha surtado por nada!
— Não me conformo! Fiz tudo como minha mãe 
ensinou, tive iniciativa e criatividade para resolver um 
problema… Só que o problema, no fm, nem existia!
E a garça arrematou, com uma risada:
— Sim, mas faltou calma e, principalmente… 
CURIOSIDADE!
Dizem que, depois dessa experiência, o coelhinho 
aprendeu a controlar melhor suas emoções.
Ao tentar resolver um problema, 
primeiro tenha certeza de que ele existe!

17
Um senhor falou, um dia, 
a um menino, seu amigo: 
— Vou vender minha mulinha. 
Venha à cidade comigo.
Em seguida, trouxe a mula, 
muito limpinha e tratada, 
e logo, com ela, os dois 
caminhavam pela estrada.
Disse o senhor ao menino: 
— Nenhum de nós vai montado. 
O caminho é um pouco longo, 
quero o bicho descansado.
Depois de algum tempo andando, 
passaram por um sujeito 
que, olhando como os três iam, 
disse não estar direito…
— Nunca vi tanta injustiça! 
Uma maldade é o que é! 
A mula andando vazia, 
e o pobre velho indo a pé!
O VELHO, O MENINO   
E A MULINHA  
ANTIGA FÁBULA DE LA FONTAINE, RECONTADA EM QUADRINHAS‡

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Não querendo contrariar 
o que um estranho dizia, 
o senhor montou na mula, 
fazendo o que não queria.
Porém, não demorou muito 
pra o seu sossego acabar. 
Passando por lavadeiras, 
começaram a criticar.
— Que velho mais desalmado! 
Vai montado e não se cansa! 
Não se lembra de levar 
junto dele esta criança!
Mais uma vez dando ouvidos 
a qualquer disse me disse, 
o senhor fez ao menino 
um sinal pra que subisse.
O menino compreendeu 
e na mulinha subiu. 
Ao ver os dois sobre ela, 
um viajante sorriu:

19
— Dois em cima de uma mula, 
tendo pés para andar! 
Por que o adulto não cuida 
de seu próprio caminhar?
O senhor, mais uma vez, 
entendeu estar errado: 
desceu da mula e deixou 
só o menino montado.
Um lavrador que passava 
nos dois prestou atenção. 
— Boa tarde, majestade! — 
disse em tom de gozação.
Seu cumprimento atrevido 
ele foi logo explicando: 
— O príncipe vai montado, 
e o escravo vai puxando!
Tentando encontrar um jeito 
de satisfazer o povo, 
o senhor disse ao menino: 
— Desça da mula de novo!

20
A mula levou um susto, 
pois do chão foi levantada! 
E os dois seguiram caminho, 
levando-a carregada!…
Mas nem assim conseguiram 
fazer o povo calar: 
— Dois burros levando o outro! — 
logo ouviram alguém gritar.
Depois de tanto trabalho, 
sem ter nenhum resultado, 
o senhor disse ao menino: 
— Estamos agindo errado!
— Percebi que é impossível 
contentar a toda gente. 
Quem quer isso fca louco! 
Vou mudar daqui pra frente.
— Agora só presto contas 
à minha própria consciência. 
Quem não gostar, sinto muito, 
vai precisar ter paciência.
Se cada um pensa de um jeito diferente, o melhor é refetir e 
agir com consciência… e não se abalar com as críticas.

21
O aniversário de 100 anos da tartaruga estava se 
aproximando, e ela andava muito preocupada com os 
outros animais, seus vizinhos.
O motivo era que todos tinham se tornado tão 
voltados para si mesmos que ninguém mais fazia nada 
em grupo, nem se ajudava, nem fazia amizade. Além 
disso, em geral, eram muito invejosos, sempre dando 
valor apenas ao que pertencia aos outros. Pareciam 
nunca estar contentes.
Ela decidiu que precisava fazer alguma coisa e teve 
uma ideia: anunciou a todos que daria uma festa. Mas 
avisou que ninguém deveria se preocupar em lhe trazer 
nada. Em vez de ganhar presentes, seria ela própria 
quem daria um presente a cada convidado. Além disso, 
cada um teria direito de realizar um desejo!
Não deu outra: os convidados da tartaruga 
compareceram em peso. 
Logo que todos haviam chegado, reuniram-se em 
torno da pilha de pacotes coloridos, enfeitados com 
grandes laços, que havia ao redor de uma árvore.
Cada um pegou o pacote com seu nome e abriu.
OS PRESENTES DA 
TARTARUGA

22
A cegonha ganhou oito pulseiras, 
mas não tinha braços para colocar. 
Desejou ter braços como o polvo, 
e viu seu desejo se realizar.
O polvo ganhou uma fta vermelha, 
mas não tinha cabelo para amarrar. 
Desejou ter crina como a zebra,  
e viu seu desejo se realizar.
A zebra ganhou um paraquedas, 
mas não tinha asas para voar. 
Desejou ter asas como a arara, 
e viu seu desejo se realizar.
A arara ganhou um par de brincos, 
mas, sem orelhas, não podia usar. 
Desejou orelhas como as do coelho, 
e viu seu desejo se realizar.
O coelho ganhou um par de óculos, 
mas, em seu narizinho, iam escorregar. 
Desejou ter tromba, como o elefante, 
e viu seu desejo se realizar.
O elefante ganhou um belo anel, 
mas, sem ter dedos, como colocar? 
Desejou ter dedos iguais aos do macaco, 
e viu seu desejo se realizar.

23
O macaco ganhou uma prancha de surfe, 
mas não se sentia pronto pra nadar. 
Desejou nadadeiras de tubarão, 
e viu seu desejo se realizar.
O tubarão ganhou um par de tênis, 
mas, sem ter pés, como iria calçar? 
Desejou dois pés iguais aos do sapo, 
e viu seu desejo se realizar.
O sapo ganhou uma linda gravata, 
mas, sem pescoço, não podia usar. 
Desejou um pescoço como o da cegonha, 
e viu seu desejo se realizar.
Quando se acabaram todos os desejos, 
os bichos correram a se admirar. 
Mas o resultado não agradou ninguém, 
E a turma toda se pôs a chorar…
Eles perceberam que gostavam do jeito que eram 
antes, e cada um, muito frustrado, acabou desistindo 
do que tinha desejado. A cegonha se lamentava:
— Como sou infeliz! Nasci com asas, não sei voar 
com braços, mas não vou poder usar meu presente!
— Pra mim é pior! — debulhava-se o coelho em 
lágrimas. — Aquela tromba era maior do que eu! Mas 
agora, nunca vou conseguir usar os óculos que ganhei!

24
— E eu quase deixei de ser um peixe com aqueles pés 
de sapo! — fungava o tubarão. — A verdade é que não 
sirvo pro meu presente!
Nesse ponto, a sábia tartaruga pediu a palavra:
— Se dei os presentes, tive uma intenção: 
foi uma maneira de fazer pensar. 
Pois, em vez de só olharem para si, 
será bom se, em volta, puderem olhar.
— O presente certo, logo encontrarão, 
se souberem em seu amigo reparar. 
Se fzerem isso, darão seu presente 
para quem melhor puder aproveitar!
A princípio, ninguém compreendeu a intenção da 
tartaruga. 
A cegonha foi a primeira a entender a mensagem. 
Olhou para todos os convidados, arregalou os olhos, 
como se tivesse feito uma grande descoberta, e falou:
— É isso! 
E, aproximando-se do polvo, perguntou se ele 
aceitaria as pulseiras de presente. Muito contente, ele 
aceitou. Em seguida, foi a vez dele de olhar em volta.
O polvo… 
deu a fta à zebra, 
que deu o paraquedas à arara, 
que deu os brincos ao coelho, 
que deu os óculos ao elefante, 

25
que deu o anel ao macaco, 
que deu a prancha ao tubarão, 
que deu os tênis ao sapo, 
que ofereceu a gravata à cegonha.
Todos se olharam com admiração! Finalmente, não 
havia mais ninguém triste ou insatisfeito. Além do 
mais, descobriram a alegria de fazer amigos, porque 
fnalmente prestaram atenção no outro!
A festa fcou muito mais animada e prosseguiu por 
horas, até que o elefante fcou sério e quis falar:
— Amigos! Em nosso egoísmo, acabamos deixando 
de presentear nossa querida amiga tartaruga, que tanto 
nos ensinou, justamente no dia em que completa um 
século de vida!
A tartaruga sorriu e respondeu:
— Ao contrário: hoje recebi o maior presente de 
todos! Ver vocês nessa confraternização tão feliz é 
muito mais do que eu poderia desejar! Espero que essa 
grande amizade continue amanhã e para todo o sempre!
Quem tinha patas bateu palmas. Quem não tinha fez 
uhuuuuuuuu!
Quem só olha para o próprio umbigo  
nunca vai ser um bom amigo!

26
A Cutia e a Anta estavam conversando. As duas 
trocavam ideias de forma tão animada que a Rainha 
Onça-Pintada, passando perto dali, acabou ouvindo 
tudo. O assunto era abóbora e as delícias culinárias que 
podemos preparar com ela.
Apesar de ser um animal carnívoro, a Rainha Onça 
tinha curiosidade sobre outros paladares. Já com água 
na boca, louca para experimentar aquelas receitas, teve 
uma ideia. Reuniu os animais em uma clareira, no meio 
da mata, e anunciou um concurso:
— Queridos súditos! Ando enjoada de comer carne 
todo dia. Quero variar. Convido todos os talentos 
culinários do reino para concorrer a um prêmio. Esse 
prêmio será… uma linda casa na árvore!
Os animais fcaram animadíssimos, já se achando os 
melhores cozinheiros da foresta e de olho na casa nova 
que poderiam ganhar. A Rainha Onça continuou:
 — Darei uma abóbora-moranga a cada um dos 
concorrentes. Em três dias, a contar de hoje, voltarei 
aqui para escolher o vencedor. Prestem atenção no 
desafo: quem usar a abóbora da forma mais criativa 
será o ganhador!
A ONÇA QUE QUERIA 
COMER ABÓBORA

27
Não havia tempo a perder. Vários animais correram 
para se inscrever. A Anta e a Cutia foram as primeiras. O 
Quati, o Lobo-Guará, a Seriema, o Tatu, o Tamanduá e a 
Lontra também compareceram. Por último, inscreveu-
se a Preguiça. Todos receberam sua abóbora e seguiram 
depressa para suas casas, dispostos a criar uma receita 
mais incrível que a outra.
De todos, a Preguiça era quem morava mais longe. E, 
como se sabe, ela é um bicho muito lento em tudo que 
faz, de modo que, quando chegou à sua casa, já estava 
praticamente na hora de começar a retornar para a fnal 
do concurso! 
E o grande dia chegou. Uma mesa comprida tinha sido 
montada na clareira, onde a Rainha Onça aguardava, 
junto de sua conselheira, a Doutora Coruja, para 
julgar as delícias preparadas para a ocasião. Na hora 
combinada, todos os concorrentes se apresentaram, 
trazendo suas criações em todo tipo de recipiente: 
vasilha, travessa, caçarola, cumbuca. 
Todos, não. Faltava a Preguiça, que, apesar de lenta, 
era muito querida. Já prevendo seu atraso, todos 
concordaram em esperar mais um pouco. 
Quando a Onça já começava a dar sinais de 
impaciência, a Preguiça chegou, toda esbaforida, como 
se tivesse corrido o máximo que podia — levando-se 
em conta que “corrida” de preguiça não passa muito de 
meio quilômetro por hora.

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Ela trazia na mão a abóbora, que tinha uma alça de 
cipó, e a parte de cima cortada, como se tivesse tirado 
dela uma “tampa”.
Começou a apresentação dos pratos.
Tinha de tudo: prato salgado, prato doce, entradas, 
petiscos, sobremesas. O da Anta tinha um nome 
comprido: “Doce de abóbora com crocante de castanha 
de caju e sorvete cremoso de gengibre”. Huummm, 
parecia ótimo!
A Cutia fez chips de cascas de abóbora. O Tatu 
apresentou uma bela salada de abóbora com queijo de 
cabra. A Onça ia provando e conversando bem baixinho 
com a Coruja, que tomava notas.
Quando chegou a vez da Preguiça, ela deu um passo à 
frente e disse:
— Majestade, como eu moro longe e não tinha muito 
tempo, achei melhor fazer uma coisa simples.
E tirou de dentro da abóbora um embulho feito com 
folha de bananeira, que ofereceu à Rainha. Esta, curiosa, 
desembrulhou e viu que era um simples pastel!
A Preguiça apressou-se a explicar:

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— Majestade… Tomei a liberdade de trazer esse pastel de 
forno, recheado com abóbora, que é simples, mas muito 
gostoso. É um dos meus preferidos. Confesso que pretendia 
fazer algo diferente, mas vi que não teria tempo. Passei por 
muitos obstáculos! Se quiserem, posso contar.
— Prossiga! — ordenou a Onça, curiosa.
A Preguiça contou:
— Bem, logo que entrei na cozinha, sem querer, 
derrubei da prateleira a fôrma de barro que eu tinha 
para usar no forno. Ela se quebrou em mil pedaços!
Que fazer? Eu precisava ter uma ideia! E tive!
Cortei uma “tampa” da abóbora, tirei tudo o que tinha 
de dentro dela, e ela virou uma fôrma para assar o pastel. 
Depois que o pastel fcou pronto, embrulhei-o em uma 
folha de bananeira, e já ia saindo, quando percebi que 
uma tempestade muito forte tinha começado.
Que fazer? Eu precisava ter uma ideia! E tive!
Virei a abóbora ao contrário, espetei nela uma 
bengala, e ela se transformou num guarda-chuva!
Caminhei com difculdade debaixo da chuva, mas 
pelo menos o pastel estava protegido e ia chegar bem 
sequinho! Até que a chuva parou, mas o caminho à 

30
minha frente tinha virado uma enxurrada impossível 
de atravessar a pé.
Que fazer? Eu precisava ter uma ideia! E tive!
Virei de novo a abóbora com a parte oca para cima 
e usei-a como barco! Com a ajuda da bengala, afastei 
os obstáculos do caminho e consegui vencer mais 
esse desafio!
Só então percebi que, com tudo que tinha acontecido, 
a folha de bananeira que embrulhava o pastel estava 
fcando toda amassada. Eu precisava de um recipiente 
para colocar minha obra, de modo que ela chegasse 
arrumadinha e apresentável ao concurso.
Que fazer? Eu precisava ter uma ideia! E tive!
Amarrei uma alça de cipó na abóbora e ela virou 
uma bolsa! Alisei bem meu embrulho e coloquei-o 
dentro dela. E, fnalmente, cheguei aqui. Apesar de um 
pouco atrasada, acho que cumpri meu compromisso.
Depois que todos os concorrentes tinham 
apresentado seus pratos, a Rainha Onça e a Doutora 
Coruja foram para um canto conversar. A decisão 
parecia não estar muito fácil, porque elas falavam, 
falavam e não chegavam a uma conclusão.
Até que, por fm, retornaram a seus lugares. A Rainha 
Onça tomou a palavra:
— Queridos súditos! Minha preocupação é, acima 
de tudo, ser justa! E, como muito bem me lembrou 
a Doutora Coruja, quando apresentei o concurso, a 
frase que eu gostaria de ter dito era: “Quem usar a 

31
abóbora para fazer o prato mais saboroso e criativo será 
o ganhador!”. Mas não foi isso que eu disse. Na realidade, 
eu disse: “Quem usar a abóbora da forma mais criativa 
será o ganhador!” De modo que o vencedor, para minha 
surpresa, só pode ser o animal que teve criatividade para 
ver na abóbora muito mais do que uma comida…
Todos os presentes disseram juntos: 
— É a Preguiça!
Tanto os concorrentes como todos que assistiam 
concordaram que podia não ser o resultado esperado… 
mas era o mais justo!
E foi assim que a Preguiça ganhou uma linda casa na 
árvore!
Em seguida, a Onça convidou todos os animais 
presentes para saborear um banquete, composto por 
todos os pratos que haviam concorrido. Nenhum 
concorrente saiu de mãos abanando: todos receberam 
prêmios valiosos por seu talento.
Dizem que, depois desse dia, a Rainha Onça virou fã 
de abóbora, e já está falando em um novo concurso. 
Desta vez, o tema será… berinjela! Será que a Preguiça 
vai ter outra ideia?
Criatividade é ver o que os outros não veem!

32
Toc, toc, toc…
A Formiga Um ouviu o som de batidas na porta do 
formigueiro.
Com o coração aos pulos, aproximou-se sem fazer 
qualquer barulho e encostou o ouvido na porta.
O inverno havia chegado e, com ele, um vento 
gelado que assoviava lá fora. Na época do frio, todas 
as formigas se encorujavam dentro de casa, bem 
aquecidas. Já tinham trabalhado bastante durante o 
verão e enchido a despensa, para que a comida não 
faltasse nesse período difícil.
O som se repetiu, com mais insistência:
Toc, toc, toc!
A Formiga Dois também se aproximou na pontinha 
dos pés e cochichou para a Formiga Um:
— Será que é ela?
— Ela quem? — cochichou a Formiga Três, sem 
entender por que todas estavam falando baixinho.
— Ela, a cigarra! — disseram quase ao mesmo tempo 
as duas primeiras, com voz tremida, como se estivessem 
falando de um fantasma…
— Cigarra? — repetiu a Formiga Três. — Aquela que 
cantava todo dia no abacateiro aqui ao lado?
A CIGARRA E  
AS FORMIGAS

33
— Sim! — responderam as duas.
A Formiga Um explicou:
— O problema é que esta é uma tradição na nossa 
história… e agora chegou a nossa vez!
— Não queremos ter de fazer isso! — choramingou a 
Formiga Dois.
— Que tradição é essa? — quis saber a Formiga Três.
Vendo que ela não sabia de nada, as duas resolveram 
contar.
— Tudo começou com uma fábula chamada “A cigarra 
e a formiga”. Depois do que aconteceu nela, todos os anos, 
quando chega o inverno, uma cigarra bate na porta de um 
formigueiro. Isso se repete há muitas gerações…
— A cigarra sempre chega com frio e com fome. Pede 
abrigo e um pouco de comida.
As formigas Um e Dois iam contando a fábula para a 
Três, um pouco cada uma.
— A formiga que abre a porta era como nós: tinha 
passado o verão inteiro trabalhando e armazenando 
comida para o inverno. Por isso, ela e todas no seu 
formigueiro estavam bem alimentadas e não passavam 
nenhum aperto durante a estação fria.
— Pois é. Nós, formigas, somos previdentes. Não 
pensamos só no presente: poupamos para o futuro.
— Pensando nisso, a formiga perguntou à cigarra: 
“E você? O que fazia, durante o tempo bom, que não 
construiu sua casa nem fez um estoque de comida?”

34
— A cigarra, tremendo e tossindo muito, respondeu: 
“Eu cantava…”
— E o que nossa parenta fez? — quis saber, curiosa, a 
Formiga Três.
— Ela? Bem, ela respondeu: “Ah, você cantava? Pois, 
então, dance agora!” E bateu a porta na cara da cigarra!
A Formiga Três arregalou os olhos:
— Dance agora? Ela disse isso, coitada da cigarra!
Nesse momento, soou novamente a batida:
Toc, toc, toc!
As duas fcaram mais nervosas. A Formiga Um 
continuou:
— Minha avó dizia que a formiga agiu certo, porque 
“quem não se prepara para o futuro paga sempre um 
preço alto”.
— Nós concordamos, mas não totalmente — explicou 
a Formiga Dois. — Formiga é formiga, cigarra é cigarra. 
A gente não deve achar que as nossas ideias ou o nosso 
jeito de viver são os únicos certos. Cada um tem sua 
natureza. A da cigarra é cantar!
— E canta tão lindo! — disse a Formiga Um, fechando 
os olhinhos, como se estivesse recordando. — Eu fcava 
feliz sempre que ela começava a cantoria!

35
— Sim, ela é uma artista! — concordou a Formiga Três. 
— E eu acho que a gente deve sempre tentar se colocar 
no lugar do outro. Isso se chama “empatia”. Aliás, se 
demorarmos muito para abrir, ela vai acabar morrendo 
de frio antes da hora!
A Formiga Um tomou coragem:
— É verdade! Vamos abrir. Mas o que faremos?
A Formiga Dois tomou uma decisão:
— Todas concordam em não seguir a tradição e ajudar 
a cigarra?
As outras duas disseram juntas:
— Concordamos!
E assim, após esse acordo, abriram a porta.
Mas o que viram foi muito diferente do que tinham 
imaginado!
A cigarra estava lá, sim, mas bem agasalhada, com um 
lindo casaco feito de paina. 
Diante das três formigas boquiabertas, ela falou:
— Tudo bem, amigas? Então, gente, como nesse tempo 
de frio não dá para cantar no abacateiro, resolvi abrir 
uma escola de canto! Vim convidar vocês!
— Ma… mas como? — gaguejaram as formigas. — 
Você agora tem casa? E dá aulas?
— Claro, né? — respondeu a cigarra, rindo. — Não 
temos que continuar repetindo para sempre a vida 
dos nossos avós… Ou vocês pensam que só as formigas 
conhecem aquela fábula?

36
As formigas arregalaram os olhos e abriram ainda 
mais as bocas.
A cigarra continuou:
— E como sei que vocês guardam bastante comida, 
tive a ideia de perguntar se topariam trocar minhas 
aulas por um pouco de alimento! 
Assim que se refez do espanto, a Formiga Um abriu 
um enorme sorriso.
— Nossa! Eu ia adorar aprender a cantar!
As outras duas formigas concordaram, entusiasmadas.
As três correram a contar a novidade a todo o 
formigueiro, que aderiu em peso.
E foi assim que a cigarra passou todos os invernos 
seguintes sem nunca mais sentir fome. E quando 
a estação fria passou, as formigas descobriram que 
o serviço fcava muito mais leve se trabalhassem 
cantando! 
O mundo seria um lugar melhor se as pessoas  
se perguntassem com mais frequência:  
“E se fosse comigo?”

37
Era uma vez uma abelhinha. Ela via as outras abelhas 
tirando o néctar das fores e trabalhando na colmeia, e 
achava aquilo lindo! Ao mesmo tempo, tinha certeza de 
que nunca conseguiria fazer o que elas faziam.
Essa abelha quase não voava, porque estava sempre 
triste, perdida em seus pensamentos. Sentia-se incapaz 
de, um dia, ser como as outras. 
“Nasci no lugar errado”, pensava ela. “Todas as outras 
abelhas parecem achar tão fácil essa arte de descobrir 
o néctar nas fores e depois, como se fosse mágica, 
transformar o néctar em mel, um alimento perfeito e 
delicioso! Só pra mim parece ser tão difícil…”
Tanto ela insistiu nisso que um dia sua mãe lhe disse:
— Já que você acha que não tem talento para fazer 
mel, vou ajudar você a descobrir outros talentos. 
E, mostrando à flha uma sacolinha amarrada com um 
fo dourado, Mamãe Abelha explicou:
— Aqui dentro tem um pólen mágico. Ele funciona 
assim: você escolhe um bichinho que possua um talento 
que você admira. Em seguida, conta a sua admiração a 
ele, com um verso bem bonito. Depois, joga o pólen no 
bicho e em você mesma… e a mágica acontece: o talento 
irá surgir em você também!
A ABELHA QUE NÃO SABIA   
FAZER MEL

38
A mãe ainda completou:
— Só tem um detalhe: esse pólen é muito antigo, 
então o efeito fcou um pouco lento. Você precisa passar 
uns dias treinando com o outro bicho até a mágica fazer 
efeito…
Ao ouvir aquilo, a abelha abandonou sua expressão 
triste e, fnalmente, se animou. 
No dia seguinte, a abelha estava pousada na grama, quando 
passou um gafanhoto pulando. Uau! Que pulos incríveis ele 
dava! Ela quis fazer igual e improvisou uma rima:

39
— Gafanhoto querido, 
que salta lindo assim, 
vou jogar esse pólen 
em você e em mim! Posso?
— Pode, sim! — respondeu o gafanhoto, que era muito 
simpático e gostou de ter seu pulo elogiado.
Os dois logo fzeram amizade. No começo, a abelhinha 
não pulou muito bem, mas se lembrou do que a mãe 
tinha dito: pólen velho, mágica demorada… Continuou 
insistindo. Em poucos dias, estava saltando quase tão 
bem como o gafanhoto!
“Caramba, essa mágica funciona mesmo!”, pensava ela 
enquanto se divertia, pulando pra lá e pra cá com o novo 
amigo.
Algum tempo depois, a abelha reparou em um caracol 
que ia passando. Conforme avançava, naquela lentidão 
costumeira dos caracóis, deixava atrás de si uma trilha 
desenhada no chão. A abelha perguntou a ele por que 
aquilo acontecia, e o caracol respondeu:
— É pra eu não me perder, na hora de voltar pra casa!

40
Ela achou a ideia maravilhosa e, sem perder tempo, 
inventou uns versinhos:
— Meu caracol querido, 
que traça seu caminho, 
vou jogar esse pólen 
para fazer igualzinho! Posso?
— Pode, sim! — respondeu o caracol, que adorou ter 
seu dom valorizado.
Depois de jogar o pólen, a abelha fcou muito atenta 
à técnica usada pelo molusco. Em poucos dias, já estava 
rabiscando o chão e brincando de desenhar trilhas com 
seu novo amigo!
Dias depois, passou por ela, muito apressada, uma 
formiga, carregando uma folha de árvore dez vezes 
mais pesada que ela. A abelhinha se encantou com toda 
aquela força. Pegou a sacolinha de pólen e criou uma 
rima bem depressa, antes que a formiga desaparecesse 
na curva adiante: 
— Formiguinha querida, 
com força sem igual, 
vou jogar esse pólen 
pra fcal tal e qual! Posso?

41
— Pode, sim! — respondeu a formiga, que tinha 
prazer em usar seus músculos.
A abelha, então, jogou o pólen e aceitou o convite 
da formiga para conhecer o treinamento que ela fazia. 
Passado algum tempo, fnalmente, parecia que mais essa 
mágica tinha funcionado! A abelhinha fcou tão forte 
que conseguia voar carregando a formiga nas costas! 
Quanta risada deram!
Feliz com tudo o que tinha conseguido, a abelha foi 
contar à sua mãe todas as mágicas que tinha feito com o 
pólen. E comentou:
— Agora, graças ao pólen mágico, sou uma abelha com 
vários talentos! Posso ser útil à colmeia com tudo o que 
aprendi: levando outra abelha nas costas, posso pular de 
for em for e ajudá-la a trabalhar sem se cansar, e muito 
mais depressa! E nunca perco o caminho de casa!
Sua mãe sorriu:
— Graças ao pólen mágico, não. Graças a você, que 
se esforçou e ganhou autoconfança pra ser tudo o que 
quiser ser… e até mesmo ir além do que possa imaginar!
— E agora? Será que a colmeia vai me aceitar, mesmo 
que eu não saiba fazer mel?

42
— Deixe de ser boba! — riu a mãe. — Você sabe, sim! 
Toda abelha já nasce sabendo!
E, dando-lhe um empurrãozinho carinhoso, completou:
— Ande! Corre, porque as fores não têm o dia todo 
pra esperar!
Ela foi. Quando chegou ao jardim, quem estava lá para 
aplaudi-la?
Seus amigos, claro! O gafanhoto, o caracol e a formiga! 
E mais a colmeia inteira!
A mágica da vida é a gente que faz!

43
Na história que abre o livro, “A Aventura das Aranhas”, 
as personagens são duas pequenas aranhas, que saem em 
busca do melhor lugar para construírem sua teia. Apesar 
de serem irmãs, têm personalidades completamente 
opostas. Teca é cheia de ideias e de iniciativa; sonha alto 
e vê o mundo de um jeito muito próprio. Já Lina, prefere 
se deixar levar, pois tem preguiça de pensar e de tomar 
decisões. Até onde a criatividade de Teca levará as duas?
Inspirada em uma antiga lenda judaica, a segunda 
história, “Duplo Silêncio”, conta as difculdades e incertezas 
vividas por duas capivaras que trabalham juntas no 
campo, plantando e nem sempre tendo a recompensa de 
uma boa colheita. Ao longo do texto, o leitor irá descobrir 
que a amizade verdadeira nunca tem limites. 
E quando um problema não é um problema? Um coelho, 
cuja impaciência prejudica sua capacidade de observar e 
interpretar a realidade, é o personagem central da terceira 
fábula, “O Rio sem Ponte”. Incumbido pela mãe de levar 
um presente ao avô, ele, literalmente, “perde o chão” ao se 
deparar, no caminho, com um rio que não tinha ponte… 
Como passar?
Mesmo que tentemos agir de forma correta, é sempre 
alto o risco de sermos julgados e criticados. Como lidar 
com isso? Recriada pela autora em forma de poesia, a 
antiga fábula de Jean de La Fontaine, “O Velho, o Menino 
e a Mulinha”, ganha uma interpretação atual. Nessa 
história, a prática do bullying é mostrada de forma 
bastante simples: após tentar, sem sucesso, satisfazer 
a opinião alheia, o protagonista acaba descobrindo a 
melhor forma de agir.
UM POUCO SOBRE 
CADA HISTÓRIA… 

44
Na quinta fábula, a personagem central é uma sábia 
tartaruga. Preocupada com seus vizinhos – animais 
egoístas, antissociais e invejosos -, ela decide dar uma 
festa em seu aniversário de 100 anos. Esse é o ponto 
de partida de “Os Presentes da Tartaruga”. Todos foram 
convidados, sem saber que uma experiência reveladora 
tinha sido preparada para eles!
Onça come legumes? Em “A Onça que Queria Comer 
Abóbora”, situações fora do comum se sucedem, a 
começar pelo título. Curiosa para provar pratos feitos 
com esse legume, a Rainha Onça propõe um concurso 
culinário entre seus súditos. Ao resolver participar, a 
Preguiça mostra que sua criatividade vai MUITO além 
dos dotes culinários, surpreendendo a todos…
Talvez a fábula mais conhecida de todos os tempos 
seja a clássica “A Cigarra e a Formiga”. Contada na 
Antiguidade pelo escritor grego Esopo, nascido em 621 
a.C. e, séculos mais tarde, por La Fontaine, chegou aos 
dias de hoje com impressionante atualidade. Neste 
livro, a autora cria uma “continuação” bem-humorada, 
contando agora com a participação não de uma, mas de 
três formigas!
Na história “A Abelha que Não Sabia Fazer Mel”, uma 
jovem abelha vive isolada, pois coloca em dúvida 
a própria capacidade de fazer mel e integrar-se à 
comunidade da colmeia. Contando com a ajuda de sua 
mãe, no entanto, acaba se percebendo capaz de dominar 
habilidades inesperadas. 

Agradecemos aos parceiros que investem em nosso projeto:
Com tartarugas, abelhas, onças e 
outros personagens, as fábulas 
convocam a nossa imaginação para 
refexões e gostosos diálogos… E, assim, 
vamos aprendendo…
9788576 94283 2
ISBN 978-85-7694-283-2

Sobre o ilustrador
Estúdio Pandora
Em mais de 20 anos conseguimos formar uma grande
rede de profissionais que acreditam nos nossos projetos.
E, nós, claro, acreditamos em cada um deles, com muita
confiança. Dizer que agenciamos ilustradores é muito
pouco para o que realmente é o Estúdio Pandora – somos
uma comunidade de artistas visuais, em busca pelo me-
lhor resultado, sempre!
Com toda essa versatilidade, temos ilustradores expressi-
vos, viscerais, detalhistas, minimalistas, entre tantas ou-
tras peculiaridades, e a nossa tarefa é unir o projeto certo
com os artistas certos, para que, assim, tanto o processo
quanto o trabalho final sejam únicos e incríveis.
Sobre a autora
Sandra Aymone nasceu no Rio de Janeiro e, apesar de viver
em uma cidade grande, teve a sorte de passar a maior parte
da sua infância em uma casa com quintal, cheio de árvores e
plantas, onde ela e seus três irmãos puderam conviver com
vários tipos de bichos: gato, tartaruga, jacu, porquinho-da-
-índia, periquitos, cachorros e outros mais. Quando não es-
tava brincando ao ar livre, em plena liberdade, estava enroscada
na poltrona lendo e relendo seus livros de literatura infantil.
Quando cresceu, estudou Magistério e Publicidade. Antes de
começar a escrever livros infantis (já publicou mais de 50 tí-
tulos), ilustrou dezenas deles, criando desenhos para textos de
outros autores. Inventar e escrever histórias para crianças é o
trabalho que ela mais gosta de fazer!
Atualmente, mora na Praia do Rosa, em Santa Catarina, onde
participa de grupos de voluntários voltados à limpeza das
praias e à conscientização das pessoas sobre a importância de
preservar a natureza e dar a destinação correta ao lixo.
Copyright© 2019. Fundação Educar DPaschoal. A reprodução de textos e imagens 
é permitida para finalidades não comerciais e com citação da fonte.
Esta obra foi impressa na Santa Edwiges Artes Gráficas, em papel cartão (capa) e papel couché (miolo). 
Esta é a 1ª edição, datada de 2019, com tiragem de 3.000 exemplares. (PRONAC: 1414380 – Cultura em páginas)
Fundação Educar DPaschoal – (19) 3728-8129REALIZAÇÃO:
Sâmia RiosREVISÃO:
Estúdio PandoraPROJETO GRÁFICO: 
Sandra AymoneAUTORA: 
COLABORAÇÃO: 
Adler Felipe C. Leite, Camila C. 
Figueiredo, Carolina Baldin Meira, Cristiane A. 
Stefanelli, Isabela Pascoal Becker, Leticia Bianca F. 
Talassi, Simone Barbosa dos Santos
Juliana Furlanetti
COORDENAÇÃO EDITORIAL: 

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