A Maravilhosa Terra de OZ

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A MARAVILHOSA TERRA DE
L. Frank Baum
1ª edição
Traduzido por Delfin
Ilustrado por André Ducci

PREFÁCIO
Depois de publicar O magnífico Mágico de Oz, passei a receber
cartas de crianças que descreviam seu prazer em ler a história. Elas
me pediam para “escrever mais alguma coisa” sobre o Espantalho e
o Lenhador de Lata. Considerei as cartinhas, ainda que me
parecessem francas e sinceras, como nada mais do que agradáveis
elogios. Mais cartas, porém, continuaram a chegar no decorrer dos
meses e, depois, anos.
Finalmente, prometi a uma garotinha que veio de longe me
visitar que atenderia ao seu pedido — além do mais, ela também é
uma “Dorothy”. A promessa foi que eu escreveria o livro quando mil
garotinhas escrevessem mil cartinhas pedindo pelo Espantalho e
pelo Lenhador de Lata. Talvez porque essa pequena Dorothy fosse
uma fada disfarçada e tenha me enfeitiçado com sua varinha mágica
ou pelo tremendo sucesso de público da produção de O Mágico de
Oz no teatro, as mil cartas — e muitas mais — chegaram.
Neste momento, apesar de me declarar culpado pela longa
espera, cumpro a promessa com este livro.
L. Frank Baum
Chicago, abril de 1904

N
BIZU CRIA JOÃO ABOBRÃO
o país dos cravins, região norte da Terra de Oz, vivia um
jovem chamado Bizu. O menino não se lembrava de seus
pais. Foi criado desde muito pequeno pela velha mulher
chamada Mambi, cuja reputação, sinto dizer, não era das melhores.
Os cravins tinham razões para suspeitar de que ela se favorecia das
artes mágicas e, por isso, não lhe dirigiam a palavra.
A Bruxa Boa que governava aquela parte da Terra de Oz proibiu
que qualquer outra bruxa atuasse em seus domínios. Portanto,
Mambi não era exatamente uma bruxa. Ainda que aspirasse fazer
uso de magia, a guardiã de Bizu sabia que se tratava de uma prática
ilegal ser algo mais do que uma feiticeira ou, no máximo, uma maga.
Para a velha Mambi, o nome do rapaz possuía muitos
significados. Aliás, segundo ela, o nome completo dele era
Bizutinius. No entanto, não se esperava que alguém pronunciasse
uma palavra tão comprida quando apenas “Bizu” dava conta do
recado.
Parte do trabalho de Bizu era trazer lenha da floresta para que a
velha fervesse seu caldeirão; a outra, trabalhar nos milharais,
capinando e debulhando. Ele também cuidava dos porcos e
ordenhava a vaca de quatro chifres, o orgulho de Mambi.
Não pense, porém, que ele trabalhava sem descanso. Quando era
mandado para a floresta, escalava as árvores para colher ovos de
pássaros, se divertia perseguindo bandos de coelhos brancos ou
pescava nos riachos utilizando anzóis feitos de pregos tortos. Só

depois disso ele se apressava em amarrar seu feixe de lenha para
tomar o caminho de casa. Enquanto supostamente deveria trabalhar
nos milharais, os grandes pés de milho o escondiam da vista de
Mambi. Nessas ocasiões, Bizu cutucava as tocas das marmotas ou,
se estivesse com o humor propício, deitava-se de costas entre as
fileiras cultivadas e tirava uma soneca. Era assim que regulava o
desgaste de suas forças para crescer forte e valente como um
menino deve ser.
A curiosa magia de Mambi metia medo nos vizinhos, que
mantinham uma distância segura e respeitosa dela. Bizu a odiava
abertamente, sem tomar precaução alguma para esconder seus
sentimentos. De fato, ele às vezes demonstrava menos respeito pela
velha do que deveria, se considerarmos que ela era sua guardiã.
As abóboras de Mambi repousavam seus corpos rubro-dourados
entre as fileiras de pés de milho. Eram cultivadas cuidadosamente
para que a vaca de quatro chifres pudesse comê-las no inverno. Um
dia, após colher e empilhar todo o milho, Bizu teve a ideia de fazer
uma “lanterna de abóbora” para dar um susto daqueles na velha.
Escolheu uma boa e grande abóbora lustrosa, cor laranja-
avermelhada, e começou a esculpi-la. Com a ponta da faca cortou
dois olhos arredondados, um nariz triangular e uma boca em forma
de lua crescente. Ao final, não dava pra dizer que o rosto era
exatamente bonito. Apesar disso, seu semblante apresentava um
sorriso tão largo, uma expressão tão engraçada, que até mesmo Bizu
riu ao olhar admirado para o seu trabalho.
Como não tinha amigos da idade dele, Bizu não sabia que os
garotos sempre escavam o interior da abóbora para colocar lá
dentro uma vela acesa, o que deixa o rosto mais assustador. Sua

ideia era diferente e parecia muito eficaz à primeira vista. Ele
decidiu montar a figura de um homem e nela colocar a cabeça de
abóbora. Sua criação seria disposta em um lugar onde a velha
Mambi a encontraria cara a cara.
— Com isso — Bizu riu sozinho —, ela gritará tão alto quanto o
porco marrom quando eu puxo o rabo dele. Vai se arrepiar com um
calafrio mais forte do que quando eu tive aquele febrão no ano
passado.
Teve tempo de sobra para realizar a tarefa. Mambi estava em
uma vila próxima, onde fora comprar mantimentos. Segundo ela,
tratava-se de uma viagem de pelo menos dois dias.
Bizu foi com seu machado para a floresta escolher algumas
árvores jovens, mas fortes e retas. Ele as cortou e limpou todos os
ramos e folhas. Seriam os braços, pernas e pés de seu homem. Para
o corpo, arrancou a casca grossa ao redor de um grande tronco e,
com muito esmero, moldou uma forma cilíndrica no tamanho
aproximado e prendeu suas bordas com tarraxas de madeira.
Assobiando alegremente enquanto trabalhava, juntou com cuidado
os membros e os uniu ao corpo com mais cavilhas entalhadas para
um encaixe perfeito.
Quando terminou sua tarefa, começava a escurecer. Lembrou-se
de que precisava ordenhar a vaca e alimentar os porcos. Pegou seu
homem de madeira e o carregou de volta para a casa.
Durante a noite, na cozinha, sob a luz do fogo, recortou com
cuidado todos os cantos das juntas e suavizou os lugares ásperos
com precisão e um bom acabamento. Depois, colocou a figura de pé
contra a parede e a admirou. Parecia notavelmente alto, mesmo

para um homem adulto. Pareceu bom aos olhos do garotinho, que
não fazia nenhuma objeção quanto à altura de sua criação.
Na manhã seguinte, ao examinar novamente seu trabalho, Bizu
viu que faltava o pescoço do boneco, o qual serviria para fixar a
cabeça de abóbora ao corpo. Voltou à floresta, que não era muito
longe, e cortou de uma árvore diversos pedaços para completar seu
trabalho. Quando retornou, conectou uma peça transversal na
ponta de cima do corpo, fazendo um buraco no centro para que o
pescoço se fixasse. A madeira que formava o pescoço também era
afiada em cima. Depois de tudo pronto, colocou a cabeça de
abóbora, apertou e percebeu que ela se encaixava muito bem. A
cabeça podia virar de um lado para o outro à vontade e as
articulações dos membros permitiam ao garoto colocar o boneco na
posição que quisesse.
— Ora — declarou Bizu, orgulhoso —, isso é realmente um belo
exemplar de homem. Vai assustar a velha Mambi ainda mais se
parecer que está vivo, por isso vou vesti-lo como se deve.
Achar roupas não foi tarefa fácil. Bizu teve de revirar o grande
baú no qual Mambi guardava todas as suas lembranças e tesouros.
Bem no fundo, descobriu calças púrpuras, uma camisa vermelha e
um colete rosa pontilhado com bolinhas brancas. Embora as roupas
não caíssem muito bem, vestiu o homem e o transformou em uma
criatura de estilo alegre. Para completar o traje, usou algumas meias
de malha de Mambi e um par gasto de seus próprios sapatos. Bizu
ficou tão contente que dançou pra lá e pra cá, rindo alto, num êxtase
infantil.
— Preciso dar um nome a ele! — exclamou. — Um homem tão
bom como este certamente merece ter um nome. Eu acho…

Ele acrescentou, depois de pensar por um momento:
— Vou chamá-lo “João Abobrão”!

A
O MARAVILHOSO PÓ DA VIDA
pós considerar a questão cuidadosamente, Bizu decidiu que
o melhor lugar para colocar João Abobrão seria na curva da
estrada, um local afastado da casa. Tentou carregar seu
homem até lá, mas descobriu que era pesado e difícil de manusear.
Depois de arrastar a criatura por certa distância, Bizu o colocou de
pé, dobrou as juntas de uma das pernas e a seguir as da outra ao
mesmo tempo em que o empurrava por trás. Assim, fez João
Abobrão andar até a curva da estrada. O percurso lhe custou alguns
tropeções, mas Bizu perseverou mais do que havia feito nos campos
ou na floresta. O amor pela travessura tomou conta dele. Alegrou-se
ao confirmar sua própria habilidade em um trabalho bem-feito.
— João está bem e funciona direito! — disse a si mesmo, bufando
com o esforço fora do normal.
Em dado momento, percebeu que o braço esquerdo do homem
tinha caído no trajeto. Voltou para recolhê-lo e depois, com um
prego novo mais forte para a junção do ombro, consertou o dano
tão bem que o braço ficou melhor do que antes. Bizu também
percebeu que a cabeça de abóbora do João girou até olhar para as
costas dele. Essa parte era fácil de consertar. Quando, enfim,
montou o homem olhando para a curva no caminho por onde a
velha Mambi chegaria, apresentava um ar natural o suficiente para
ser uma imitação justa de um fazendeiro cravim — e anormal o
bastante para assustar qualquer um que fosse até ele desavisado.

Como ainda era muito cedo para esperar a volta da velha, Bizu
desceu até o vale abaixo da fazenda para colher castanhas das
árvores que ali cresciam.
No entanto, Mambi voltou mais cedo do que de costume. Ela
havia conhecido um mago fora da lei que habitava uma caverna
solitária nas montanhas e trocou muitos segredos mágicos
importantes com ele. Garantiu para si três novas receitas, quatro
pós mágicos e uma seleção de ervas de incríveis poderes. Por isso,
retornou rápido para casa; queria testar suas novas feitiçarias.
Mambi estava tão concentrada nos tesouros conquistados…

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