O Morro dos Ventos Uivantes

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O Morro dos Ventos Uivantes [Emily Bronte]
A Colina dos Vendavais
Tradução de
Ana Maria Chaves
_R_B_A –EDITORES
Título original: * Wuthering Heights *
original: Publicações Dom Quixote, Lda.
*c* da presente edição: Editores Reunidos, Lda., 1994 e _R_B_A Editores,
_S._A.
ISBN: 972-747-108-6
Depósito legal: 80088/94
Depósito legal: B.1701-95
Fotocomposição: Espaço 2 Gráfico, Lisboa
Impressão e encadernação: Printer Industria Gráfica. _S._A. (Barcelona)
Printed in Spain – Impresso em Espanha
Prefácio de Charlotte Bronte à Nova
Edição (1850) de ** A Colina dos Vendavais **
(Wuthering Heights)
A leitura atenta de *A Colina dos Vendavais* (_Wuthering Heights), que
acabo de fazer, mostrou-me pela primeira vez com suficiente clareza os
aspectos que lhe são apontados como defeitos, e que talvez o sejam na

realidade, dando-me ao mesmo tempo uma noção bem definida do que o livro
representa para os outros leitores –para os leitores estrangeiros que nada
sabiam acerca da autora; para os que estão familiarizados com os locais onde
a história se desenrola; para aqueles aos olhos dos quais os habitantes,
costumes e a geografia dos montes e povoados do oeste do Yorkshire são
algo de estranho e desconhecido.
*_A Colina dos Vendavais* (_Wuthering Heights) surge sem dúvida aos
olhos de todos eles como uma obra chocante e rude. As charnecas inóspitas
do Norte de Inglaterra não podem obviamente despertar o seu interesse; a
linguagem, as maneiras, as próprias casas e hábitos domésticos dos habitantes
dispersos pela região devem ser em grande parte ininteligíveis para tais
leitores e, quando inteligíveis, repulsivos. Homens e mulheres que, serenos
por natureza, moderados nos sentimentos e sem traços demasiado vincados
de caracter, tenham, provavelmente, sido educados desde o berço na
observância das mais recatadas postura e contenção de linguagem, não
saberão como interpretar o linguajar forte e duro, as paixões desabridas, os
ódios sem tréguas e os rompantes, de aldeões analfabetos e fidalgotes
grosseiros criados sem mais cultura ou educação que a que lhes foi
ministrada por mestres tão rudes quanto eles. Como tal, um apreciável
número de leitores sentir-se-á agredido pela introdução nas páginas que se
seguem de palavras impressas com todas as letras, palavras essas que, por
tradição, costumam ser representadas apenas pela primeira e última letras
ligadas por um :, travessão. Devo, contudo, e desde já, afirmar que não é
minha intenção pedir desculpa por tal ocorrência, uma vez que eu própria
considero judiciosa a escrita de tais palavras por extenso. A prática comum
de se dar a entender por letras isoladas todas aquelas imprecações com que as
pessoas coléricas e profanas têm por hábito ornamentar o seu discurso
afigura-se-me um procedimento fraco e fútil, embora bem intencionado. Não
entendo que benefícios possa trazer, que sentimentos possa poupar, que
horrores possa dissimular.
Portanto, e no tocante à rusticidade de *_A Colina dos Vendavais*
(_Wuthering Heights), admito a acusação, pois reconheço-lhe a índole. A
obra é rústica de fio a pavio. Bravia, áspera e nodosa como a raiz da urze. E
nem poderia ser de outro modo, sendo a sua autora, como é, fruto e produto
do urzal. Tivesse a família ido parar à cidade, e os seus escritos, se

porventura tivesse chegado a escrever, teriam sem dúvida um caracter bem
diferente. Mesmo que, por acaso ou por preferência, tivesse escolhido um
assunto semelhante, tê-lo-ia tratado de maneira diversa. Fosse Ellis Bell dama
ou cavalheiro acostumado ao que chamamos «a mundanidade», e a sua
imagem de um lugar remoto e abandonado, bem como das suas gentes, teria
sido bem diferente da imagem divulgada pela rapariga da província. Teria
sido sem dúvida mais generalista, mais abrangente. Se isso a teria tornado
mais original ou mais autêntica, é difícil de dizer. No tocante aos lugares e às
paisagens, teria forçosa-mente ficado aquém em empatia: as descrições de
Ellis Bell não são apenas fruto do prazer de olhar à sua volta; os montes onde
cresceu eram para ela muito mais do que um espectáculo; eram a realidade
onde vivia e de que se alimentava, tal como o eram os pássaros –os seus
moradores –ou a urze –o seu fruto. Assim, as suas descrições das paisagens
naturais são o que deviam ser, e tudo aquilo que deviam ser. Já o mesmo não
se passa em relação às suas descrições da natureza humana. Estou pronta a
reconhecer que ela tinha pouco mais experiência das gentes que a rodeavam
do que uma freira terá dos camponeses que de vez em quando passam à porta
do convento. A minha irmã não era gregária por natureza, tendo sido as
circunstâncias que propiciaram e acentuaram a sua tendência para a reclusão –
-excepto para ir à igreja, ou para dar um passeio pelos brejos, tu raramente
transpunha o limiar da porta. Embora a sua atitude fosse benevolente para
com os que viviam em redor, nunca procurou :, relacionar-se com eles, nem,
salvo raras excepções, isso aconteceu. E, no entanto, conhecia-os. Conhecia
os seus modos, o seu linguajar, as suas sagas familiares –era capaz de ouvir
falar deles com interesse e de falar deles pormenorizadamente, com minúcia,
rigor e a propósito, mas,
*com* eles, raramente trocava uma palavra. Daí que tudo aquilo que a sua
mente apreendeu da realidade dessas gentes se tivesse cingido tão só aos
traços trágicos e terríveis que a memória mais facilmente retém das histórias
ouvidas sobre os anais secretos da vizinhança. A sua imaginação, mais
sombria que soalheira, mais recolhida que folgazã, encontrou nesses traços a
matéria de onde extraiu um Heathcliff, um Earnshaw, uma Catherine. Ao dar
corpo a tais personagens, fê-lo sem saber o que fazia. Se o destinatário do seu
trabalho, quando o leu em manuscrito, tivesse estremecido sob o peso
torturante de naturezas tão cruéis e implacáveis, de almas tão perdidas e
excomungadas, se se tivesse queixado de que a mera audição de algumas

cenas era o suficiente, pela sua vividez e ferocidade, para lhe tirar o sono toda
a noite e perturbar a paz de espírito todo o dia, Ellis Bell interrogar-se-ia
sobre o verdadeiro significado de tal atitude e acusaria o queixoso de
pretensiosismo. Tivesse ela vivido mais tempo, e a sua mente teria crescido
forte como uma árvore mais sublime, mais pujante, mais
frondosa, e os seus frutos amadurecidos teriam atingido uma maturidade mais
plena, um brilho mais resplandecente; porém, numa mente assim só o tempo
e a experiência podiam influir, impenetrável que era à influência de outros
intelectos.
Tendo reconhecido que de grande parte de *_A Colina dos Vendavais*
(_Wuthering Heights) se desprende o «horror das trevas profundas», que, na
sua atmosfera pesada e tempestuosa, carregada de electricidade, nos sentimos
amiúde a respirar os próprios raios, deixem-me agora apontar aquelas
passagens em que a claridade, se bem que toldada pelas nuvens, e um sol
algo eclipsado, atestam mesmo assim a sua presença. Atente-se em Nelly
Dean, personagem ilustrativa da benevolência sincera e da fidelidade
despretensiosa; como exemplo de constância e de ternura, atente-se em Edgar
Linton. (_Haverá quem pense que estas qualidades não se manifestam com
tanto brilho num homem como se manifestariam numa mulher, mas Ellis Bell
jamais entenderia tal observação: nada a perturbava mais do que a insinuação
de que a fidelidade e a clemência, ou a natureza sofredora c afável, virtudes
consideradas apanágio das filhas de Eva, se tornassem fraquezas nos filhos de
Adão. Para :, ela, o perdão e a misericórdia são os mais divinos atributos do
Grande Ser que fez o homem e a mulher, e aquilo que adorna Deus na Sua
glória não pode lançar em desgraça nenhuma forma de humana fragilidade).
Há um certo humor cáustico e saturnino na caracterização do velho Joseph, e
a jovem Catherine é animada por pinceladas de graça e vivacidade. Do
mesmo modo, também a primeira heroína com esse nome não deixa de
ostentar uma estranha beleza na sua crueldade, nem uma certa honestidade a
par da mais perversa paixão e da mais apaixonada perversidade. Na verdade,
apenas Heathcliff se revela sem redenção, trilhando, sem um desvio que seja,
a sua rota de perdição, desde o momento em que a trouxa é desenrolada no
chão e
«aquela coisa de pele escura e cabelos pretos, tão negra como se o próprio

Diabo a tivesse enviado» surgiu ali, no meio da cozinha, até à hora em que
Nelly Dean descobre o cadáver, cínzeo e rígido, jazendo de costas na cama de
painéis, de olhos esgazeados que pareciam «zombar do esforço que ela fazia
para os fechar, e de boca entreaberta e dentadura branca e afiada arreganhada,
igualmente zombeteira». Vislumbra-se em Heathcliff um único, e solitário,
sentimento humano, e esse *não* é o seu amor por Catherine, sentimento que
se revela cruel e desumano –paixão capaz de fervilhar incandescente nas
entranhas de qualquer génio maligno, fogo que podia ser o âmago
atormentado, a alma condenada de um magnate dos infernos –e que, pela sua
insaciável e incomensurável força devastadora, o prende ao cumprimento da
sentença que o condena a transportar consigo o Inferno para onde quer que
vá. Não, o único elo que liga Heathcliff à humana condição é o respeito rude
que confessamente tem por Hareton Earushaw –o jovem que ele arruinou; e
também a sua estima, algo implícita, por Nelly Dean. Omitidos estes traços
solitários, bem se poderia dizer que ele era, não um filho de Lascar, não um
cigano, mas uma forma humana animada de sopro demoníaco –um espírito
necrófago, um génio…

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