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Copyright © 2020 by Rodrigo França
Copyright © das ilustrações 2020 by Juliana Barbosa Pereira
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SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
França, Rodrigo
O Pequeno Príncipe Preto / Rodrigo França ; ilustração Juliana Barbosa Pereira.
-1. ed. – Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 2020.
32 p. : il. ; 28 cm.
ISBN 9788520945063
1. Negros – Identidade racial – Literatura infantojuvenil. 2. Literatura
infantojuvenil brasileira. I. Pereira, Juliana Barbosa. II. Título.
Meri Gleice Rodrigues de Souza – Bibliotecária CRB-7/6439
Para toda a minha ancestralidade,
com respeito e gratidão.
Sumário
O planeta do Pequeno Príncipe Preto
O planeta do rei
O planeta Terra
O planeta Terra da raposa
O planeta Terra e o Pequeno Príncipe Preto
De volta
Sobre os autores
Ficha técnica
O PLANETA DO PEQUENO PRÍNCIPE PRETO
Em um minúsculo planeta mora um menino preto com uma árvore Baobá. O
menino gosta muito de regar a Baobá, que é sua única companheira.
— Vocês só estão me ouvindo, mas não conseguem me ver.
Estou atrás do tronco de uma árvore, da Baobá. É uma árvore
linda, imensa, gigante. Estou de braços abertos tentando envolvê-la,
mas não consigo. Precisaria de duas, três, quatro… De muita gente.
Abraçar a Baobá é uma troca de força, de energia. Sabe quando a
bateria está fraca? Então, eu venho aqui e recarrego.
Ah, já ia esquecendo: eu sou o Príncipe deste planeta. A Baobá
disse que sou o Pequeno Príncipe. Ela é a Grande Princesa.
Este planeta é tão pequeno que só cabemos nós dois aqui. Em
breve seremos três. Comparado a um planeta chamado Terra, aqui
é tão pequeno que parece um grão de areia. Existem outros
planetas espalhados por esse infinito Universo. Conheço alguns,
mas o meu sonho é conhecer todos, um a um. Saber quem mora
nesses lugares e o que fazem. Enquanto faço isso, deixo a semente
da Baobá, porque quero espalhar por aí o que tenho de mais
precioso: ela e o UBUNTU.
Foi uma promessa que fiz para a Baobá. Mas, para sair daqui,
preciso aproveitar as ventanias, que só aparecem de vez em
quando. Então, quando elas aparecem, eu saio voando, voando.
Eu não sei quem veio primeiro. O planeta ou a Baobá. Ela é
uma árvore sagrada, milenar. Está há tanto tempo aqui…
A Baobá gosta do solo seco, mas eu rego todos os dias com
água morna. Não gosto de ver ninguém com sede. As amizades
também devem ser regadas todos os dias. Nem com muita água,
nem com pouca.
Deixe-me contar um segredo: uma vez por ano, numa única
noite, nasce uma solitária flor de cabeça para baixo, e a Baobá
explode de vida e alegria.
A flor dura poucas horas e fede igual a carniça, mas é linda
demais. Eu acho engraçado, porque a Baobá é ao contrário. Os
galhos são secos para cima, parecem raízes. As folhas só brotam
quando chove. Parece até que caiu do céu, de ponta-cabeça.
Devo tanto à Baobá, sabe? Sabedoria é comida que nos
alimenta.
Existe uma coisa chamada ancestralidade. Antes dessa árvore,
existiu outra árvore, antes existiu outra árvore, e mais outra, outra
e outra… Antes de mim vieram os meus pais, os meus avós, os meus
bisavós, os meus tataravós, os meus ta-ta-taravós… Todos eram reis,
rainhas.
Como pode existir o hoje, o agora, se você não conhece o seu
passado, a sua origem, as suas características? É assim que a gente
conhece a nossa ancestralidade. Isso é sabedoria e ancestralidade.
A minha pele é da cor desse solo. Quando eu rego fica mais
escuro, cor de chocolate, de café quentinho. As cores são diferentes,
iguais aos lápis de cor. Tem gente que fala que existe um lápis “cor
de pele”. Como assim? A pele pode ter tantos tons…
Eu sou negro! Um pouco mais claro que alguns negros e um
pouco mais escuro que outros. É como a cor verde… Tem o verde-
escuro e o verde-claro, mas nenhum dos dois deixa de ser verde. Eu
gosto muito da minha cor e dos meus traços.
Minha boca é grande e carnuda.
Olhe o meu sorriso, como é simpático e bonito!
Eu tenho nariz de batata. Eu adoro batata e adoro meu nariz.
Meus olhos são escuros como a noite. Também existem olhos
claros, mas gosto dos meus olhos como eles são. Porque são meus.
Meu cabelo não é ruim. Ele não fala mal de ninguém. Antes eu
cortava meu cabelo bem baixinho, mas agora estou deixando
crescer. Quero que fique para cima igual aos galhos da Baobá. Vai
crescer, crescer, crescer… Vai ficar forte, brilhoso, volumoso. Olhe
para o céu! Ele será o limite.
Humm, cheiro de terra molhada. Acho que vai chover! Bom para
eu ficar quietinho aqui, tocando uma música para minha árvore.
Minha, não, não sou dono de nada.
Vou contar uma história. Uma vez eu estava triste aqui no meu
canto. Não lembro o motivo. Porque tristeza, se veio, deve ir logo.
O tempo estava um pouco fechado, vinha um cheiro de chuva, mas
ainda não chovia. Só havia muitos raios.
Você sabia que, para alguns, os raios são dois guerreiros
lutando? Na verdade são uma guerreira e um guerreiro: Iansã e
Xangô. Assim, cada vez que suas espadas se tocam, faz um grande
barulho de explosão.
Mas voltando à minha história. De repente, começou a ventar
muito. Olhei para o céu e vi uma pipa que voava feito uma
bailarina no ar. Era a minha chance de voar e conhecer outros
planetas. Espalhar as minhas sementes.
Então, a pipa ficou presa nos galhos da Baobá. Pedi licença e
subi, subi, subi. Quando veio um vento mais forte, me desequilibrei
e a Baobá não conseguiu me segurar com seus galhos. Agarrei a
linha da pipa, que foi me levando para longe, cada vez mais
distante. Cada vez mais alto. Eu ia vendo o meu planeta
diminuindo. A Baobá ficando pequena, minúscula. Até que vi um
planeta como o meu, mas sem árvore. Havia um homem com barba
branca, um manto vermelho de um metro… Não, com dois, três,
quatro metros! Um manto enorme. Só havia um trono e um rei.
O PLANETA DO REI
O planeta é um pouco maior do que o do Pequeno Príncipe Preto. O rei,
único habitante, gosta muito de dar ordens. Ele vive sozinho, porque ninguém
aguenta uma pessoa que só resmunga e é egoísta.
— Um milhão, dois milhões, três milhões… Eu sou tão rico, mas
tão rico que fico cansado de contar quantas estrelas tenho. É tudo
meu! Aqui eu sou o dono de tudo, tenho tudo. Quer dizer, só falta
alguém para dizer quanto sou lindo e poderoso e me aplaudir. É
meio sem graça aplaudir a si mesmo.
Voltarei para as minhas contas… Quatro milhões, cinco milhões…
O que é aquilo que vem do céu? É um menino em uma pipa! Ele
caiu agora e está cavando um buraco na terra. Que semente é
aquela? Como ousa entrar no MEU planeta sem pedir licença? Eu
permito que você ouse entrar no meu planeta sem pedir licença.
Eu sou o dono disso tudo aqui! O mais belo e simpático. Eu sou
rico! Vamos, menino, me aplauda com fervor! Que cara é essa? Não
quer me aplaudir? Tudo bem, eu ordeno que você não me aplauda.
Mas só por agora. Eu vou dar um tempo para você perceber quanto
eu sou majestoso, insubstituível, genial, inteligente, incrível…
Menino, não espirre no MEU planeta! Tudo bem, eu permito que
você espirre! Não corra! Não corra por aí, não, garoto… Ah, então
eu desejo que você corra até cansar.
Que audácia! Não se sente no meu trono! Nossa, vou pegar um
casaco, começou a ventar. Acho que vai chover. Humm, cheiro de
terra molhada. O quê? Está indo embora do meu planeta? Quem
deixou? Então vá, eu deixo você ir.
Mas por que não fica mais um pouco? Tenho cocadas, balas.
Fique, vai ter bolo! Eu lhe dou um cargo. Você será o meu
embaixador. Não, o meu conselheiro. Mas conselho para quê? Eu
sei de tudo. Não necessito de ninguém! Nãoooo, estou brincando.
Quantas estrelas você quer para ficar?
Mais uma vez sozinho, não sei por quê.
Um milhão, dois milhões, três milhões…
O PLANETA TERRA
O planeta é grande, muito maior do que o planeta do Pequeno Príncipe
Preto e o do rei. Diferente do rei solitário, esse planeta é cheio de gente e de
bichos. Um planeta azul, onde moram bilhões de pessoas. Cada um de um
jeito, de uma cor, de uma forma diferente de viver.
— Que sorte a minha! Ventou tão forte que aproveitei e corri.
Quer dizer, voei.
Nossa, o rei fala muito! Não entendo os adultos, acham que têm
tudo, mas eles não têm nada. Eu não quero estrelas, quero ter
afeto. Quero um sorriso, quero um abraço, quero poder conversar,
tomar um suco de melancia com tangerina junto de um amigo. Se
nada disso existir, as estrelas nunca serão o suficiente.
Não quero ser o mais-mais-mais nada. Muito tempo gasto
pensando somente em si. E o nós?!
Plantei uma semente da Baobá naquele triste planeta. Quando
ela crescer e virar muda, já será suficiente para o rei entender o que
é UBUNTU.
Então a ventania me levou para mais longe. A pipa me deixou
num planeta azul. Eu me lembrei do que a Baobá tinha me falado
sobre esse planeta com mais água do que terra.
Estranho, se tem mais água, por que se chama Terra?
A Baobá também disse que…





