Os Dois Irmãos – Irmãos Grimm

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Conto dos Irmãos Grimm
Ilustrações de Joel Lobo
Os Dois Irmãos

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Os Dois Irmãos
Conto dos Irmãos Grimm
Ilustrações de Joel Lobo

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ra uma vez dois irmãos, um rico e outro pobre. O rico era
ourives e muito mau. O pobre se sustentava fabricando
vassouras, e era bom e honesto. O pobre tinha dois fi-
lhos, que eram gêmeos e tão parecidos entre si como duas go-
tas de água. Os dois meninos freqüentavam bastante a casa do
tio rico, e quase sempre conseguiam os restos da comida da
casa. Certa vez, quando o pobre estava indo para a floresta bus-
car galhos caídos, ele viu um pássaro todo dourado e mais bo-
nito do que qualquer outro que já vira. Ele pegou uma pedra
pequena, atirou-a no pássaro, e teve bastante sorte de atingi-lo,
mas apenas uma pena dourada caiu, enquanto o pássaro voou
para longe. O homem pegou a pena e a levou ao seu irmão, que
a olhou e disse:
– Isso é ouro puro!
E lhe deu uma grande quantia de dinheiro pela pena. No dia
seguinte, o homem havia subido numa bétula e estava prestes a
cortar um galho quando o mesmo pássaro do dia anterior pas-
sou voando por ali. O homem tanto procurou que achou um
ninho, onde havia um ovo de ouro. Ele levou o ovo consigo para
casa, e depois o levou até o irmão, que disse de novo:
– Isso é ouro puro.
E lhe deu a quantia que a peça valia.
– Eu gostaria muito de possuir esse pássaro – falou o ourives,
ambicioso que era.
O pobre homem foi para a floresta pela terceira vez, e de
novo viu o pássaro dourado pousado numa árvore; então ele
pegou uma pedra e atingiu-o, fazendo-o cair, e o levou a seu ir-
mão, que deu uma grande soma de ouro pelo pássaro.
– Agora eu poderei viver mais folgadamente – pensou o po-
bre homem, e voltou contente para casa.

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O ourives era esperto e ardiloso, e sabia muito bem que tipo
de pássaro era aquele. Ele chamou sua esposa e disse-lhe:
– Asse-me esse pássaro dourado, e tome cuidado para que
nada seja perdido. Eu quero comê-lo inteirinho.
O pássaro, entretanto, não era uma ave comum, mas de um
tipo tão maravilhoso que quem quer que comesse seu coração
e seu fígado acharia toda manhã uma moeda de ouro embaixo
do travesseiro. A mulher temperou o pássaro, enfiou-o num es-
peto e colocou-o para assar no fogo. Mas aconteceu que en-
quanto ele assava, ela teve de sair da cozinha para fazer outro
trabalho; nisso, os dois filhos do pobre vassoureiro chegaram, e
pararam bem em frente do assado. E como exatamente naque-
le momento dois pedacinhos da ave caíram na bandeja da gre-
lha, um dos meninos disse:
– Vamos comer essas duas migalhas; eu estou morrendo de
fome, e ninguém vai sentir falta delas.
Puseram-se a comer, mas a mulher voltou à cozinha e viu
que eles estavam mastigando alguma coisa e perguntou:
– O quê vocês estão comendo?
– Dois pequenos bocados que caíram na bandeja – respon-
deram eles.
– Devem ter sido o coração e o fígado – disse a mulher, bas-
tante assustada, e para que o marido não desse pela falta deles
e ficasse bravo, ela matou um frangote, tirou-lhe o coração e o
fígado, e colocou-os ao lado do pássaro dourado.
Quando ficou pronto, ela o serviu ao ourives, que o comeu
todo sozinho, não deixando uma migalha sequer. Na manhã
seguinte, entretanto, quando ele procurou por uma peça de
ouro debaixo do travesseiro, não encontrou nada.
Os dois meninos não sabiam que a boa fortuna havia entra-

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do em seus destinos. Na manhã seguinte, quando acordaram,
algo caiu retinindo no chão, e quando eles pegaram, viram que
eram duas moedas de ouro. Eles as levaram a seu pai, que ficou
perplexo e disse:
– Como isso pode ter acontecido?
No dia seguinte, acharam mais duas moedas, e dali em dian-
te todos os dias encontravam novas moedas. O vassoureiro foi
até seu irmão e contou-lhe o estranho acontecimento. O ouri-
ves percebeu na hora tudo o que havia acontecido, e que as
crianças haviam comido o coração e o fígado do pássaro dou-
rado, e para se vingar, e porque ele era invejoso e maldoso, ele
disse para o pai:
– Seus filhos têm parte com o Diabo, não pegue o ouro de-
les, e não permita que eles fiquem em sua casa, porque estão
em poder do Diabo, e pode ser que Ele lhe tome também.
O pai tinha medo do Diabo e, por mais doloroso que fosse,
levou os gêmeos para a floresta e os deixou lá com o coração
apertado.
E então os meninos andaram pela floresta, e procuraram o
caminho de volta para casa, mas não o puderam achar, e ape-
nas perderam-se cada vez mais. Por fim eles encontraram um
caçador, que perguntou:
– A quem vocês pertencem?
– Nós somos filhos do pobre vassoureiro – responderam
eles, e disseram que o pai não os queria em casa porque toda
manhã surgiam duas moedas de ouro debaixo dos seus traves-
seiros.
– Venham – disse o caçador, – isso não é tão ruim assim, se
vocês se mantiverem honestos e não se tornaram preguiçosos.

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Como o bom homem gostava de crianças, e não tinha filhos,
levou os meninos para casa e disse-lhes:
– Eu serei o pai de vocês, e cuidarei de vocês até que este-
jam crescidos.
Eles aprenderam a arte da caça com ele, e as moedas de
ouro que eram encontradas ao acordar eram guardadas no
caso de precisarem delas no futuro.
Depois que eles cresceram, o pai adotivo certo dia os levou
para a floresta e disse-lhes:
– Hoje vocês farão a prova do tiro; veremos se são aprovados
e tornam-se verdadeiros caçadores.
Eles aguardaram ali por muito tempo, mas nenhuma caça
aparecia. O caçador, no entanto, olhou para cima e viu um ban-
do de gansos selvagens voando em forma de triângulo, e disse
para um deles:
– Acerte um de cada canto.
Ele assim o fez, e foi aprovado no teste. Logo depois passou
um outro bando voando na forma de um número dois, e o ca-
çador mandou o outro acertar um de cada canto, e seu teste
também foi realizado com sucesso.
– Agora – disse o pai adotivo – eu os declaro emancipados;
vocês já são caçadores experientes.
Então os dois irmãos foram juntos para a floresta e planeja-
ram alguma coisa. E ao anoitecer, quando eles iam jantar, disse-
ram ao pai adotivo:
– Nós não tocaremos na comida ou na bebida enquanto
não nos tiver concedido um pedido.
O caçador disse:
– Qual é esse pedido?

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Eles responderam:
– Agora que nós terminados o aprendizado, queremos co-
nhecer o mundo; permita-nos então ir e viajar.
Então falou o velho cheio de alegria:
– Vocês falam como verdadeiros caçadores! Isso que vocês
pedem sempre foi meu desejo; adiante, pois, e que tudo ocorra
bem com vocês.
Depois comeram e beberam juntos alegremente.
Quando chegou o dia marcado, o pai adotivo presenteou
cada um deles com uma arma e um cão, e deixou que cada um
pegasse o que quisesse das moedas de ouro que haviam guar-
dado. Então ele os acompanhou durante parte do caminho, e,
antes de deixá-los, deu-lhes uma faca brilhante, e disse:
– Se vocês se separarem algum dia, espetem essa faca numa
árvore bem no lugar da separação, e quando um de vocês vol-
tar, poderá ver como o irmão está indo, pois o lado da faca que
aponta para o lado onde ele foi irá enferrujar se ele morrer, mas
ficará brilhante se ele continuar vivo.
Os dois irmãos caminharam mais um tanto, e chegaram a
uma floresta que era tão extensa que era impossível sair dela
em apenas um dia. Eles passaram a noite ali, e comeram o que
haviam trazido de casa nos alforjes. Eles andaram durante todo
o dia seguinte e ainda assim não conseguiram sair da floresta.
Como não tinham mais nada para comer, um deles disse:
– Nós precisamos caçar alguma coisa para nós, do contrário
morreremos de fome.
E preparou sua arma, olhando ao redor. Quando uma velha
lebre passou correndo por perto, ele preparou-se para atirar,
mas a lebre suplicou:

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“Caro caçador, deixe-me viver,
Dois filhotes a ti eu darei.”
E embrenhou-se imediatamente numa moita, e trouxe duas
jovens lebres. Mas as pequenas criaturas brincavam tão alegre-
mente, e eram tão bonitinhas, que os caçadores nem sequer
pensaram em matá-las. Eles as levaram consigo, e as lebres os
seguiam de perto. Pouco depois, uma raposa passou rastejando;
eles estavam a ponto de acerta-lá quando a raposa suplicou:
“Caro caçador, deixe-me viver,
Dois filhotinhos também eu darei.”
Ela também trouxe dois filhotes, e os caçadores igualmente
não quiseram matá-los, mas os juntaram às lebres, e continua-
ram a viajem. Não muito depois, um lobo saiu da moita; os ca-
çadores se aprontaram para atirar nele, mas ele suplicou:
“Caro caçador, deixe-me viver,
Dois filhotinhos eu também darei.”
Os caçadores colocaram os dois lobinhos ao lado dos ou-
tros bichos, e todos eles seguiam os dois irmãos. Logo apareceu
um urso que queria caminhar mais um pouco por este mundo,
e implorou:
“Caro caçador, deixe-me viver,
Dois pequenos ursos eu te darei.”
Os dois ursinhos foram integrados ao resto, e já haviam oito
deles. E sabem quem chegou por fim? Um leão, sacudindo sua
juba. Mas…

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