PARA TODOS OS GAROTOS QUE AMEI

5/5 - (1 voto)
Página: 1 de 1

Prévia do Conteúdo do PDF:

Jenny Han nasceu na Virgínia,
Estados Unidos, e cursou mestrado em escrita
criativa pela New School. Sabe fazer um
brownie perfeito, é ótima em inventar apelidos
e tem paixão por livros de receitas. Sua série de
TV preferida é Buffy – a caça-vampiros. Mora no
Brooklyn, em Nova York.
©adam krause
LARA JEAN
GUARDA
SUAS
CARTAS DE
AMOR EM
UMA CAIXA
DE CHAPÉU
QUE
GANHOU
DA MÃE.
Não são cartas que ela recebeu de namorados, mas
que ela mesma escreveu. Uma para cada garoto que
amou — cinco ao todo. São cartas sinceras, sem jo-
guinhos nem fingimentos, repletas de coisas que Lara
Jean não confessaria a ninguém, pois revelam seus
sentimentos mais profundos. Até que, um dia, essas
cartas secretas são misteriosamente enviadas aos desti-
natários, e, de uma hora para outra, a vida amorosa de
Lara Jean sai do papel e se transforma em algo que ela
não pode mais controlar.
arte de capa: lucy ruth cummins
foto da capa: © 2014 anna wolf
lettering original: © 2014 nancy howell
adaptação de arte e lettering: ô de casa
Quando escrevo, não reprimo nada. Escrevo
como se ele nunca fosse ler. Porque não vai
mesmo. Cada pensamento secreto, cada obser

vação cuidadosa, todos os sentimentos que
guardei dentro de mim, coloco tudo na carta.
Quando termino, fecho o envelope, escrevo o
endereço e coloco dentro da caixa de chapéu
azul-petróleo.
Não são cartas de amor no sentido mais
estrito da palavra. Minhas cartas são de quando
não quero mais estar apaixonada. São cartas de
despedida. Porque, depois que escrevo, aquele
amor ardente para de me consumir. Posso
tomar o café da manhã sem me preocupar se
ele também gosta de banana com cereal; posso
cantar músicas românticas sem estar cantando
para ele. Se o amor é como uma possessão,
talvez minhas cartas sejam meu exorcismo. As
cartas me libertam. Ou pelo menos deveriam.
JENNY
HAN
JENNY HAN
www.intrinseca.com.br

Tradução de Regiane Winarski

Copyright © 2014 by Jenny Han
Publicado mediante acordo com Folio Literary Management LCC
e Agência Riff
título original
To All the Boys I’ve Loved Before
preparação
Marina Vargas
revisão
Milena Vargas
diagramação
Filigrana
[2015]
Todos os direitos desta edição reservados à
Editora Intrínseca Ltda.
Rua Marquês de São Vicente, 99, 3º andar
22451-041 — Gávea
Rio de Janeiro — RJ
Tel./Fax: (21) 3206-7400
www.intrinseca.com.br
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

H197p

Han, Jenny
Para todos os garotos que já amei / Jenny Han ; tradução
Regiane Winarski. – 1. ed. – Rio de Janeiro : Intrínseca, 2015.
320 p. ; 21 cm.

Tradução de: To all the boys I’ve loved before
ISBN 978-85-8057-726-6

1. Ficção americana. I. Winarski, Regiane. II. Título.

15-21313 CDD: 813
CDU: 821.111(73)-3

Para Susan — irmãs Han para sempre

Eu gosto de preservar coisas. Não coisas importantes, como
baleias, pessoas ou a natureza. Coisas bobas. Sinos de porcelana, do
tipo que se compra em lojas de lembrancinhas. Cortadores para mas-
sa de biscoito que nunca vou usar, porque, afinal, quem precisa de
um biscoito com formato de pé? Fitas para o cabelo. Cartas de amor.
De todas as coisas que guardo, acho que posso afirmar que as cartas
de amor são meus bens mais preciosos.
Guardo-as em uma caixa de chapéu azul-petróleo, que minha mãe
comprou para mim em um brechó no Centro. Não são cartas que
outra pessoa escreveu para mim; não tenho nenhuma assim. São
cartas que eu escrevi. Uma para cada garoto que amei — cinco ao
todo.
Quando escrevo, não reprimo nada. Escrevo como se ele nunca
fosse ler. Porque não vai mesmo. Cada pensamento secreto, cada
observação cuidadosa, todos os sentimentos que guardei dentro de
mim, coloco tudo na carta. Quando termino, fecho o envelope, es-
crevo o endereço e coloco dentro da caixa de chapéu azul-petróleo.
Não são cartas de amor no sentido mais estrito da palavra. Minhas
cartas são de quando não quero mais estar apaixonada. São cartas de
despedida. Porque, depois que escrevo, aquele amor ardente para de me
consumir. Posso tomar o café da manhã sem me preocupar se ele
também gosta de banana com cereal; posso cantar músicas românticas
sem estar cantando para ele. Se o amor é como uma possessão, talvez
minhas cartas sejam meu exorcismo. As cartas me libertam. Ou pelo
menos deveriam.

1
Josh é o namorado de Margot, mas acho que eu poderia
dizer que minha família toda é apaixonada por ele. É difícil saber
quem o ama mais. Antes de ele ser namorado de Margot, era só Josh.
E estava sempre por perto. Eu digo “sempre”, mas acho que isso não
é bem verdade. Ele se mudou para a casa ao lado da nossa cinco anos
atrás, mas parece que faz muito mais tempo.
Meu pai adora Josh porque ele é menino, e meu pai vive cercado
de meninas. Estou falando sério: ele passa o dia todo cercado por mu-
lheres. Meu pai é ginecologista e obstetra, e também pai de três filhas,
então são só garotas, garotas, garotas o dia inteiro. Ele compartilha com
Josh o amor por quadrinhos, e os dois também saem juntos para pescar.
Meu pai tentou nos levar para pescar uma única vez, mas eu chorei
quando meus sapatos ficaram sujos de lama, Margot chorou quando o
livro dela molhou, e Kitty chorou porque ainda era um bebê.
Kitty adora Josh porque ele joga cartas com ela e não fica ente-
diado. Ou pelo menos finge não ficar entediado. Eles fazem acordos:
se eu ganhar a próxima rodada, você tem que preparar um sanduíche
de creme de amendoim crocante com pão torrado, sem a casca, para
mim. Essa é Kitty. Em algum momento o creme de amendoim cro-
cante acaba, e Josh diz que é uma pena, mas ela terá que escolher
outra coisa. Porém, Kitty enche tanto o saco dele que ele sai e compra,
porque Josh é assim.
Se eu tivesse que dizer por que Margot o ama, provavelmente
diria que é porque todos nós amamos.
Estamos na sala, e Kitty está colando figuras de cachorros em uma
cartolina enorme. Tem papel e pedaços de papel cortado por toda a
parte ao redor dela. Cantarolando baixinho, ela diz:

10 Je n n y Ha n
— Quando papai me perguntar o que quero de Natal, vou dizer:
“Pode escolher qualquer uma dessas raças e estamos quites.”
Margot e Josh estão no sofá; eu estou deitada no chão, assistindo
à tevê. Josh fez uma tigela grande de pipoca, e estou concentrada em
comê-la, de punhado em punhado.
Começa um comercial de perfume: uma garota corre pelas ruas
de Paris usando um vestido frente única roxo, fino como papel de
seda. O que eu não daria para ser essa garota de vestido fino como
papel de seda correndo por Paris na primavera! Eu me sento tão de
repente que engasgo com um grão de milho que não estourou. Entre
acessos de tosse, digo:
— Margot, vamos nos encontrar em Paris nas minhas férias!
Já posso me imaginar girando com um macaron de pistache em uma
das mãos e um de framboesa na outra.
Os olhos de Margot se iluminam.
— Você acha que papai vai deixar?
— Claro, é cultura. Ele tem que deixar.
Mas eu nunca viajei de avião sozinha. E também nunca saí do país.
Será que Margot iria me buscar no aeroporto ou eu teria que encon-
trar o albergue sozinha?
Josh deve ter visto a preocupação repentina no meu rosto, porque diz:
— Não se preocupe. Seu pai vai deixar se eu for com você.
Eu me alegro.
— É! Podemos ficar em albergues e comer pão e queijo o dia
inteiro.
— Podemos visitar o túmulo do Jim Morrison! — diz Josh.
— Podemos ir a uma parfumerie e criar nossos próprios perfumes!
— digo, e Josh ri com deboche.
— Hã, tenho certeza de que “criar nossos próprios perfumes” em
uma parfumerie custaria a mesma coisa que uma semana no albergue.
— Ele cutuca Margot. — Sua irmã tem mania de grandeza.
— Ela é a mais elegante de nós três — concorda Margot.
— E eu? — choraminga Kitty.

11
— Você? — Eu faço um som debochado. — Você é a garota menos
elegante da família Song. Tenho que implorar para você lavar os pés
à noite, e nem estou falando de tomar banho.
O rosto de Kitty se contrai e fica vermelho.
— Eu não estava falando disso, sua pateta. Estava falando sobre
Paris.
Faço um gesto distraído com a mão.
— Você é nova demais para ficar em um albergue.
Ela vai até Margot e sobe no colo dela, apesar de ter nove anos e
ser grande demais para ficar no colo das pessoas.
— Margot, você vai me deixar ir, não vai?
— Talvez pudesse ser uma viagem de férias em família — sugere
Margot, beijando a bochecha dela. — Você, Lara Jean e papai pode-
riam ir juntos.
Eu franzo a testa. Não era essa a viagem para Paris que eu estava
imaginando. Por cima da cabeça de Kitty, Josh faz movimentos labiais:
“Conversamos depois.” Eu faço um sinal discreto de positivo.
Mais tarde, na mesma noite, Josh já foi embora. Kitty e nosso pai
estão dormindo. Margot e eu ficamos na cozinha. Ela está sentada à
mesa, no computador; sento ao lado dela, fazendo bolinhas de massa
de biscoito…

Conteúdo Relacionado: