Admirável Mundo Novo – Aldous Huxley

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Admirável mundo novo
Aldous Huxley
tradução
Lino Vallandro
Vidal Serrano

Copyright © 1932 by Laura Huxley Copyright da tradução © Editora Globo S.A.
Todos os direitos reservados Nenhuma parte desta edição pode ser utilizada ou reproduzida — em
qualquer meio ou forma, seja mecânico ou eletrônico, fotocópia, gravação etc. — nem apropriada ou
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Texto fixado conforme as regras do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto
Legislativo n
o 54, de 1995).
Título original: Brave new world
Editor responsável: Ana Lima Cecilio
Editor assistente: Erika Nogueira Vieira
Editor digital: Erick Santos Cardoso
Revisão da presente edição: Cadu Ortolán
Diagramação: Jussara Fino
Capa: Thiago Lacaz
Ilustração da capa: Crosby, Theo (1925-94), Fletcher, Alan (1931-2006) & Forbes, Colin (b.1928)
Foto do autor: Philippe Halsman/Magnum Photos/Latinstock CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA
PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
H989a
Huxley, Aldous, 1894-1963
Admirável mundo novo/Aldous Huxley; tradução Lino Vallandro, Vidal
Serrano. – 22
a ed. – São Paulo: Globo, 2014.
314 p. ; 21 cm.
Tradução de: Brave new world
ISBN 978-85-250-5644-3
1. Ficção inglesa. I. Vallandro, Lino, 1917-. II. Serrano, Vidal. III. Título.
13-07185 CDD: 823
CDU: 821.111-3
1
a edição, 1941; 2
a edição, 1963; 5
a edição, 1979; 10
a edição, 1982; 16
a edição, 1985; 20
a edição, 1999; 21
a
edição, 2001; 22
a edição, 2014
Direitos de edição em língua portuguesa para o Brasil adquiridos por Editora Globo S.A.
Av. Jaguaré, 1485 — 05346-902 — São Paulo — SP
www.globolivros.com.br

Sumário
Capa
Folha de rosto
Créditos
Epígrafe
Prefácio
Admirável mundo novo
Um
Dois
Três
Quatro
Cinco
Seis
Sete
Oito
Nove
Dez
Onze
Doze
Treze
Catorze
Quinze
Dezesseis
Dezessete
Dezoito
Obras de Aldous Huxley pela Biblioteca Azul
Notas

“Les utopies apparaissent comme bien plus réalisables qu’on ne le
croyait autrefois. Et nous nous trouvons actuellement devant une question
bien autrement angoissante: Comment éviter leur réalisation définitive? …
Les utopies sont réalisables. La vie marche vers les utopies. Et peut-être un
siècle nouveau commence-t-il, un siècle où les intellectuels et la classe
cultivée rêveront aux moyens d’éviter les utopies et de retourner à une
société non utopique, moins ‘parfaite’ et plus libre.”

nicolas berdiaeff
 

Prefácio
TODOS OS MORALISTAS ESTÃO DE ACORDO em que o remorso crônico é um
sentimento dos mais indesejáveis. Se uma pessoa procedeu mal, arrependa-
se, faça as reparações que puder e trate de comportar-se melhor na próxima
vez. Não deve, de modo nenhum, pôr-se a remoer suas más ações. Espojar-
se na lama não é a melhor maneira de ficar limpo.
A arte possui também sua moralidade, e muitas das regras desta são
iguais, ou pelo menos análogas, às da ética comum. O remorso, por
exemplo, é tão indesejável com relação à nossa arte de má qualidade quanto
com relação ao nosso mau comportamento. A má qualidade deve ser
identificada, reconhecida e, se possível, evitada no futuro. Esmiuçar as
deficiências literárias de vinte anos atrás, tentar remendar uma obra
defeituosa para levá-la à perfeição que não teve em sua primeira forma,
passar a nossa meia-idade procurando remediar os pecados artísticos
cometidos e legados por aquela outra pessoa que éramos na juventude —
tudo isso, certamente, é vão e infrutífero. Eis por que este novo Admirável
mundo novo sai igual ao antigo. Seus defeitos como obra de arte são
consideráveis; mas, para corrigi-los, eu teria de reescrever o livro — e, ao
reescrevê-lo, como uma outra pessoa, mais velha, provavelmente eliminaria
não apenas as falhas da narrativa, mas também os méritos que pudesse ter
tido originariamente. Assim, resistindo à tentação de chafurdar no remorso
artístico, prefiro deixar o bom e o mau como estão e pensar em outra coisa.
Entretanto, parece-me que vale a pena mencionar pelo menos o
defeito mais grave do romance, que é o seguinte: o Selvagem é posto diante
de duas alternativas apenas, uma vida de insanidade na Utopia ou a vida de
um primitivo numa aldeia de índios, vida esta mais humana em alguns
aspectos, mas, em outros, pouco menos estranha e anormal. Na época em
que foi escrito o livro, eu achava divertida e muito possivelmente

verdadeira a ideia de que os seres humanos são dotados de livre-arbítrio
para escolher entre a insanidade, de um lado, e a demência, de outro.
Contudo, o Selvagem muitas vezes fala mais racionalmente do que, a rigor,
o justificaria sua formação entre os praticantes de uma religião que é um
misto de culto da fertilidade e de ferocidade de Penitentes. Nem mesmo o
conhecimento de Shakespeare poderia justificar, na verdade, tais
manifestações. E no fim, por certo, ele é levado a recuar da sanidade
mental; o penitentismo nativo reafirma sua autoridade e o Selvagem acaba
no autoflagelo maníaco e no desespero suicida. “E esses morrem sempre
infelizes” — para satisfação do divertido e pirrônico esteta que era o autor
da fábula.
Hoje não sinto o menor desejo de demonstrar que a sanidade é
impossível. Pelo contrário, embora continue não menos tristemente certo
que a sanidade é um fenômeno bastante raro, estou convencido de que ela
pode ser alcançada, e gostaria de vê-la mais difundida. Por ter dito isso em
diversos livros recentes e, acima de tudo, por ter compilado uma antologia
do que disseram os sãos de espírito acerca da sanidade e de todos os meios
pelos quais ela pode ser obtida, ouvi de um eminente crítico acadêmico a
observação de que sou um triste sintoma do fracasso de uma classe
intelectual em tempo de crise. A inferência é, suponho, que o professor e
seus colegas são alegres sintomas de êxito. Os benfeitores da humanidade
merecem as honras e a comemoração devidas. Construamos um Panteão
para os professores. Deveria localizar-se entre as ruínas de uma das cidades
destruídas da Europa ou do Japão, e acima da entrada eu inscreveria, em
letras de seis ou sete pés de altura, estas simples palavras: cONSAGRADO À
MEMÓRIA DOS EDUCADORES DO MUNDO. sI MONUMENTUM REQUIRIS
CIRCUMSPICE.
Mas, voltando ao futuro… Se eu reescrevesse o livro agora,
ofereceria uma terceira alternativa ao Selvagem. Entre as duas pontas do
seu dilema, a utópica e a primitiva, estaria a possibilidade de alcançar a
sanidade de espírito — possibilidade já realizada, até certo ponto, numa

comunidade de exilados e refugiados do Admirável Mundo Novo,
estabelecidos dentro dos limites da Reserva. Nessa comunidade, a economia
seria descentralista e georgista, e a política, kropotkiniana e cooperativista.
A ciência e a tecnologia seriam usadas como se, a exemplo do sábado,
tivessem sido feitas para o homem, e não (como no presente e ainda mais
no Admirável Mundo Novo) como se o homem tivesse de ser adaptado e
escravizado a elas. A religião seria a procura consciente e inteligente do
Objetivo Final do homem, a busca do conhecimento unitivo do Tao
imanente ou Logos, da Divindade transcendente ou Brama. E a filosofia de
vida predominante seria uma espécie de Utilitarismo Superior, em que o
princípio da Maior Felicidade ocuparia posição secundária em relação ao do
Objetivo Final — e a primeira pergunta a ser formulada e respondida em
qualquer contingência da vida seria: “De que modo este pensamento ou ato
ajudará ou impedirá a consecução, por mim e pelo maior número possível
de outros indivíduos, do Objetivo Final do homem?”
Educado entre os primitivos, o Selvagem (nesta hipotética nova
versão do livro) não seria transportado para a Utopia senão depois de ter
tido a oportunidade de aprender algo em primeira mão sobre a natureza de
uma sociedade composta de indivíduos em livre cooperação, dedicados à
busca da sanidade de espírito. Assim alterado, Admirável mundo novo
possuiria uma inteireza artística e filosófica (se é admissível usar uma
palavra tão importante a propósito de uma obra de ficção) que, em sua
forma atual, evidentemente lhe falta
Mas Admirável mundo novo é um livro sobre o futuro e, sejam
quais forem suas qualidades artísticas ou filosóficas, um livro desse tipo só
poderá nos interessar se suas profecias derem a impressão de poderem,
concebivelmente, vir a realizar-se. Do nosso atual posto de observação,
quinze anos mais abaixo no plano inclinado da história moderna, até que
ponto seus prognósticos parecem plausíveis? Que aconteceu no penoso
intervalo para confirmar ou invalidar as predições de 1931?

Uma enorme e óbvia falha de previsão é imediatamente visível.
Admirável mundo novo não contém nenhuma referência à fissão nuclear.
Essa omissão é, na verdade, um tanto curiosa, pois as possibilidades da
energia nuclear tinham sido tópico comum de debates durante anos antes de
ser escrito o livro. Meu velho amigo Robert Nichols escrevera até uma peça
de sucesso a respeito do assunto, e lembro-me de que eu próprio o
mencionara de passagem num romance publicado em fins da década de 20.
De modo que, como já disse, parece muito curioso que os foguetes e
helicópteros do sétimo século de Nosso Ford não fossem movidos por
núcleos de desintegração. O lapso pode não ser perdoável; mas é, pelo
menos, fácil de explicar. O tema de Admirável mundo novo não é o avanço
da ciência em si; é esse avanço na medida em que afeta os seres humanos.
Os triunfos da física, da química e da engenharia são tacitamente dados
como suposições. Os únicos progressos científicos descritos
especificamente são os que se relacionam com a aplicação aos seres
humanos dos resultados de futuras pesquisas nos terrenos da biologia, da
fisiologia e da psicologia. É somente por meio das ciências da vida que se
pode mudar radicalmente a qualidade desta. As ciências da matéria podem
ser aplicadas de tal modo que destruam a vida ou a tornem
irreversivelmente complexa e desconfortável; mas, a menos que sejam
usadas como instrumentos pelos biólogos e psicólogos, não podem
modificar as formas e expressões naturais da própria vida. A liberação da
energia atômica assinala uma grande evolução na história humana, porém
(salvo se nos explodirmos e assim pusermos ponto final à história) não a
revolução final e mais profunda.
Essa revolução verdadeiramente revolucionária deverá ser
realizada, não no mundo exterior, mas sim na alma e na carne dos seres
humanos. Vivendo, como viveu, num período revolucionário, o Marquês de
Sade fez uso, com muita naturalidade, dessa teoria das revoluções para
racionalizar seu tipo peculiar de insanidade. Robespierre realizara a espécie
de revolução…

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