O Príncipe – Maquiavel

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APRESENTAÇÃO
Nicolaus Maclavellus, ou Nicoló Macchiavelli foi um gênio. Ou alguém conhece escritor dos anos 1500
que seja tão atual quanto ele? Um ex-ministro, poderosíssimo, deste país confessou, publicamente, que
“O Príncipe” era seu livro de cabeceira. Falo sobre Delfim Netto. O Fernando Henrique, habituado a
dizer bobagens, nunca confessou, mas basta ver suas atirudes e decisões para verificar que “O Príncipe ”
é mais que um livro de cabeceira, é Bíblia. As pessoas, neste país não lêem, ou o fazem mal. “O príncipe”
deve ser analisado com cuidado. De forma indireta, é um libelo pela democracia e libertarismo. Prestem
atenção, aprenderão muito e quem sabe, encontrarão o caminho da liberdade. Infelizmente nossos
políticos não entenderam, ou não querem
O PRÍNCIPE
Maquiavel
AO MAGNÍFICO LORENZO DE MEDICI
NICOLÓ MACHIAVELLI
ÍNDICE
DOS PRINCIPADOS
Capítulo II. Dos principados hereditários
Capítulo III. Dos principados mistos
Capítulo IV. Por que o reino de Dario, ocupado por Alexandre, não se rebelou contra
seus sucessores após a morte deste
Capítulo V. De que modo se devam governar as cidades ou principados que, antes de
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serem ocupados, viviam com as suas próprias leis
Capítulo VI. Dos principados novos que se conquistam com as armas próprias e
virtuosamente
Capítulo VII. Dos principados novos que se conquistam com as armas e fortuna dos
outros
Capítulo VIII. Dos que chegaram ao principado por meio de crimes
Capítulo IX. Do principado civil
Capítulo X. Como se devem medir as forças de todos os principados
Capítulo XI. Dos principados eclesiásticos
Capítulo XII. De quantas espécies são as milícias, e dos soldados mercenários
Capítulo XIII. Dos soldados auxiliares, mistos e próprios
Capítulo XIV. O que compete a um príncipe acerca da milícia(tropa)
Capítulo XV. Daquelas coisas pelas quais os homens, e especialmente os príncipes, são
louvados ou vituperados .
Capítulo XVI. Da liberalidade e da parcimônia
Capítulo XVII. Da crueldade e da piedade; se é melhor ser amado que temido, ou antes
temido que amado
Capítulo XVIII. De que modo os príncipes devem manter a fé da palavra dada
Capítulo XIX. De como se deva evitar o ser desprezado e odiado
Capítulo XX. Se as fortalezas e muitas outras coisas que a cada dia são feitas pelos
príncipes são úteis ou não
Capítulo XXI. O que convém a um príncipe para ser estimado
Capítulo XXII. Dos secretários que os príncipes têm junto de si
Capítulo XXIII. Como se afastam os aduladores
Capítulo XXIV. Por que os príncipes da Itália perderam seus estados
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Capítulo XXV. De quanto pode a fortuna nas coisas humanas e de que modo se lhe deva
resistir
Capítulo XXVI. Exortação para procurar tomar a Itália e libertá-la das mãos dos bárbaros
Carta de Machiavelli a Francesco Vettori, em Roma
O PRÍNCIPE
Costumam, o mais das vezes, aqueles que desejam conquistar as graças de um Príncipe, trazer-lhe
aquelas coisas que consideram mais caras ou nas quais o vejam encontrar deleite, donde se vê amiúde
serem a ele oferecidos cavalos, armas, tecidos de ouro, pedras preciosas e outros ornamentos
semelhantes, dignos de sua grandeza. Desejando eu, portanto, oferecer-me a Vossa Magnificência com
um testemunho qualquer de minha submissão, não encontrei entre os meus cabedais coisa a mim mais
cara ou que tanto estime, quanto o conhecimento das ações dos grandes homens apreendido através de
uma longa experiência das coisas modernas e uma contínua lição das antigas as quais tendo, com grande
diligência, longamente perscrutado e examinado e, agora, reduzido a um pequeno volume, envio a Vossa
Magnificência.
E se bem julgue esta obra indigna da presença de Vossa Magnificência, não menos confio que deva ela
ser aceita, considerado que de minha parte não lhe possa ser feito maior oferecimento senão o dar-lhe a
faculdade de poder, em tempo assaz breve, compreender tudo aquilo que eu, em tantos anos e com tantos
incômodos e perigos, vim a conhecer. Não ornei este trabalho, nem o enchi de períodos sonoros ou de
palavras pomposas e magníficas, ou de qualquer outra figura de retórica ou ornamento extrínseco, com
os quais muitos costumam desenvolver e enfeitar suas obras; e isto porque não quero que outra coisa o
valorize, a não ser a variedade da matéria e a gravidade do assunto a tornarem-no agradável. Nem desejo
se considere presunção se um homem de baixa e ínfima condição ousa discorrer e estabelecer regras a
respeito do governo dos príncipes: assim como aqueles que desenham a paisagem se colocam nas
baixadas para considerar a natureza dos montes e das altitudes e, para observar aquelas, se situam em
posição elevada sobre os montes, também, para bem conhecer o caráter do povo, é preciso ser príncipe e,
para bem entender o do príncipe, é preciso ser do povo. Receba, pois, Vossa Magnificência este pequeno
presente com aquele intuito com que o mando; nele, se diligentemente considerado e lido, encontrará o
meu extremo desejo de que lhe advenha aquela grandeza que a fortuna e as outras suas qualidades lhe
prometem. E se Vossa Magnificência, das culminâncias em que se encontra, alguma vez volver os olhos
para baixo, notará quão imerecidamente suporto um grande e contínuo infortúnio.
CAPÍTULO I
DE QUANTAS ESPÉCIES SÃO OS PRINCIPADOS E DE QUE MODOS
SE ADQUIREM
(QUOT SINT GENERA PRINCIPATUUM ET QUIBUS MODIS ACQUIRANTUR)
Todos os Estados, todos os governos que tiveram e têm autoridade sobre os homens, foram e são ou
repúblicas ou principados. Os principados são: ou hereditários, quando seu sangue senhorial é nobre há já
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longo tempo, ou novos. Os novos podem ser totalmente novos, como foi Milão com Francisco Sforza, ou
o são como membros acrescidos ao Estado hereditário do príncipe que os adquire, como é o reino de
Nápoles em relação ao rei da Espanha. Estes domínios assim obtidos estão acostumados, ou a viver
submetidos a um príncipe, ou a ser livres, sendo adquiridos com tropas de outrem ou com as próprias,
bem como pela fortuna ou por virtude.
DOS PRINCIPADOS
(De Principatibus)
CAPÍTULO II
DOS PRINCIPADOS HEREDITÁRIOS
(DE PRINCIPATIBUS HEREDITARIIS)
Não cogitarei aqui das repúblicas porque delas tratei longamente em outra oportunidade. Voltarei minha
atenção somente para os principados, irei delineando os princípios descritos e discutirei como devem ser
eles governados e mantidos. Digo, pois, que para a preservação dos Estados hereditários e afeiçoados à
linhagem de seu príncipe, as dificuldades são assaz menores que nos novos, pois é bastante não preterir
os costumes dos antepassados e, depois, contemporizar com os acontecimentos fortuitos, de forma que,
se tal príncipe for dotado de ordinária capacidade sempre se manterá no poder, a menos que uma
extraordinária e excessiva força dele venha a privá-lo; e, uma vez dele destituído, ainda que temível seja
o usurpador, volta a conquistá-lo.
Nós temos na Itália, como exemplo, o Duque de Ferrara que não cedeu aos assaltos dos venezianos em
1484 nem aos do Papa Júlio em 1510, apenas por ser antigo naquele domínio. Na verdade, o príncipe
natural tem menores razões e menos necessidade de ofender: donde se conclui dever ser mais amado e, se
não se faz odiar por desbragados vícios, é lógico e natural seja benquisto de todos. E na antigüidade e
continuação do exercício do poder, apagam-se as lembranças e as causas das inovações, porque uma
mudança sempre deixa lançada a base para a ereção de outra.
CAPÍTULO III
DOS PRINCIPADOS MISTOS
(DE PRINCIPATIBUS MIXTIS)
Mas é nos principados novos que residem as dificuldades. Em primeiro lugar, se não é totalmente novo
mas sim como membro anexado a um Estado hereditário (que, em seu conjunto, pode chamar-se “quase
misto”), as suas variações resultam principalmente de uma natural dificuldade inerente a todos os
principados novos: é que os homens, com satisfação, mudam de senhor pensando melhorar e esta crença
faz com que lancem mão de armas contra o senhor atual, no que se enganam porque, pela própria
experiência, percebem mais tarde ter piorado a situação. Isso depende de uma outra necessidade natural e
ordinária, a qual faz com que o novo príncipe sempre precise ofender os novos súditos com seus soldados
e com outras infinitas injúrias que se lançam sobre a recente conquista; dessa forma, tens como inimigos
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todos aqueles que ofendeste com a ocupação daquele principado e não podes manter como amigos os que
te puseram ali, por não poderes satisfazê-los pela forma por que tinham imaginado, nem aplicar-lhes
corretivos violentos uma vez que estás a eles obrigado; porque sempre, mesmo que fortíssimo em
exércitos, tem-se necessidade do apoio dos habitantes para penetrar numa província. Foi por essas razões
que Luís XII, rei de França, ocupou Milão rapidamente e logo depois o perdeu, para tanto bastando
inicialmente as forças de Ludovico, porque aquelas populações que lhe haviam aberto as portas,
reconhecendo o erro de seu pensar anterior e descrentes daquele bem-estar futuro que haviam imaginado,
não mais podiam suportar os dissabores ocasionados pelo novo príncipe.
Ë bem verdade que, reconquistando posteriormente as regiões rebeladas, mais dificilmente se as perdem,
eis que o senhor, em razão da rebelião, é menos vacilante em assegurar-se da punição daqueles que lhe
faltaram com a lealdade, em investigar os suspeitos e em reparar os pontos mais fracos. Assim sendo, se
para que a França viesse a perder Milão pela primeira vez foi suficiente um Duque Ludovico que fizesse
motins nos seus limites, já para perdê-lo pela segunda vez foi preciso que tivesse contra si o mundo todo
e que seus exércitos fossem desbaratados ou expulsos da Itália, o que resultou das razões logo acima
apontadas. Não obstante, tanto na primeira como na segunda vez, Milão foi-lhe tomado.
As razões gerais da primeira foram expostas; resta agora falar sobre as da segunda vez e ver de que
remédios dispunha a França e de que meios poderá valer-se quem venha a…

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