O TEMPO QUE O TEMPO – Efigênia Alves TEM

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Texto: Efigênia Alves
Ilustrações: Rafael Limaverde

Fortaleza ● Ceará ● 2018
Texto: Efigênia Alves
Ilustrações: Rafael Limaverde

Copyright © 2018 Efigênia Alves
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A474t Alves, Efigênia.
O tempo que o tempo tem/ Efigênia Alves; ilustrações de Rafael Limaverde.
– Fortaleza: SEDUC, 2018.
32p.; il.
ISBN 978-85-8171-202-4
1. Literatura infanto-juvenil. I. Limaverde, Rafael. II. Título.
CDU 028.5

Aos meus filhos: Jônatas e Sara Beatriz,
por trazerem o meu tempo de infância
entre doçuras, risos e quintais.

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A curiosidade morava no coração da menina.
Ela cutucava as dúvidas, que saltavam em
perguntas. E a dúvida maior era sobre o que é o
tempo, tão falado entre os adultos:
— O tempo hoje tá quente!
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– No meu tempo, as coisas eram diferentes.
– Gostei dele por muito tempo…
– Nossa, me perdi no tempo!
E a menina ficava pensando: “Quando uma pessoa
se perde no tempo, para se achar, é preciso sair fora
dele? O tempo é um ser, um lugar ou um espaço? O que
é tempo perdido? Então ele pode ser achado?”
Cada um falava do tempo de um jeito diferente:
– O tempo tem os seus mistérios…
– O tempo ainda vai te dizer.
– O meu tempo está chegando.
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E as dúvidas sobre o tempo cresciam dentro da
menina: “E quando o tempo chega, como sabemos?
Se o tempo fala, como é a sua voz? Onde o tempo
guarda os seus mistérios?”
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Em cada fala, o tempo ganhava um sentido
diferente. Às vezes era a solução; outras vezes,
o culpado.
9

Tudo era muito confuso…
— Deixa que o tempo cura todas as feridas.
— Qual é o seu tempo?
— Faz tempo que te espero.
— Tudo tem seu tempo.
— O tempo é o melhor remédio!
— O tempo de ser feliz é agora.
“Então, a felicidade devia morar dentro de todos os
tempos”, a menina desejava.
Um dia, disseram para ela:
— Você tem todo o tempo do mundo!
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A menina, então, se perguntava: “Ter todo o
tempo do mundo significa ser a dona do tempo? E
sendo a dona do tempo, posso mudá-lo de frente para
trás, misturar o depois com o agora, trocar o hoje pelo
ontem, revirar o amanhã e trazer o futuro para perto de
mim? Como mexer no tempo?”
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Fazia tempo que a menina tentava entender
o que era o tempo. Aquele tempo que os adultos
falavam o tempo todo. Então, pegou a sua agenda
e resolveu perguntar às pessoas:
— O que você sabe sobre o tempo?
O rapaz de óculos, que andava apressado,
estranhando, respondeu:
— O que sei é bem pouco, porque o tempo
é muito comprido e não dá para alcançar o seu
tamanho. Mas é certo que ninguém se esconde do
tempo. Ele enxerga as lonjuras e até o que ainda
virá. E descobre todos os segredos!
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13

O senhor que estava no banco da praça explicou
para a menina:
— O tempo vai desgastando tudo, distanciando
coisas e encurtando distâncias. Desbota
cores, entorta caminhos,
derruba as folhas
das árvores, seca as
correntezas e transborda
riachos. O tempo parece
menino traquino, não
dá ouvidos a ninguém.
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A menina continuou a pesquisa e anotou cada
resposta:
— Tempo, menina, é aquela velhinha que vai
passando, com cabelo de nuvem em dia de sol
quente, bochechas amaracujadas e olhar sábio,
desses de quem já viu muita coisa na vida. Disse
o vendedor de algodão-doce.
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— Ora, ora… o tempo é aquela montanha ao longe,
que abriga gerações de bichos e plantas e permanece,
lá, sem descer das alturas — falou uma moça bonita,
dessas que o sorriso vive enfeitando o rosto.
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— Tempo é um ser invisível, montado num cavalo
de vento, que vive arrepanhando as coisas, levando
tudo para bem distante, como fez com tantas coisas
que eu amava. De tão longe, não dá mais para alcançá-
las — respondeu um rapaz que se dizia poeta, quase
derramando uma lágrima de tempo.
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A menina também perguntou o que era o tempo
ao seu Antônio da farmácia, que tinha fama de
filósofo, que é uma pessoa que gosta de pensar
sobre todas as coisas:
— O tempo é a prova do existir. Para ele não há
intervalos. Quem fatiou o tempo em minutos, horas,
dias, meses, anos e séculos foi o homem. Mas tudo
em vão, porque o tempo não obedece a ninguém,
não se rende a nada, ele segue e pronto. Cada um
que acompanhe a sua marcha… se puder.
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— Qual o início e fim do tempo? — perguntou
a menina.
— O tempo é como um fio sem ponta,
ninguém sabe o seu começo nem o seu fim.
Ninguém nunca viu o início nem presenciará
o seu final. Mas o tempo acompanha todos os
princípios e assiste todos os derradeiros.
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Seu Antônio filósofo olhou ao longe, e
prosseguiu, com voz sossegada:
— O tempo sempre nos promete o amanhã.
E minha mente ficava ocupada com o futuro,
tramando as promessas do depois. Ainda fico nessa
espera. É verdade que o amanhã, até aqui, nunca
faltou, mas talvez um dia ele não chegue…
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— O tempo escuta as pessoas, seu Antônio?
— Se escuta, finge que não. O certo é que ele
não liga para as dores ou alegrias de ninguém. O
tempo deve ser um andarilho, sem pai nem mãe,
sem moradia e não se apega a ninguém. Vive
vagando e carregando as coisas, numa caminhada
sem fim. Dizem que ele é muito curioso, descobre os
escondidos e sai contando baixinho por aí.
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— Mais! Me conte mais sobre o tempo.
A menina se entusiasmou.
— É ele que cria a ilusão de passado, presente
e futuro. Há muito tempo, Santo Agostinho
escreveu: “o presente das coisas passadas é a
memória, o presente das coisas presentes é o
olhar e o presente das coisas futuras é a espera.”
Não devemos nos preocupar em entender os
tempos do tempo. Vamos deixá-lo, assim como
as suas “acontecências”, pois não adianta,
ninguém muda o seu curso.
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E seu Antônio continuou:
— O relógio fatia o tempo, e nessas fatias tudo
se organiza. Sem essas porções, as pessoas viveriam
perdidas na imensidão do tempo. E o tempo,
minha pequena, não volta, mas deixa seu rastro na
memória. O tempo tem a cor do invisível.
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A menina disse que achava o tempo algo muito
confuso, cada um falava dele de um jeito diferente:
passado, presente, hora, dia, ano, mês, cedo, tarde,
amanhã, ontem, antigamente, novo, minuto, noite.
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Seu Antônio achou engraçado o comentário
da menina e explicou esses marcadores. Sugeriu
que ela escrevesse, na agenda, a sua própria
experiência com o tempo. A menina não entendeu
muito sobre a passagem do tempo, suas andanças,
mas sabia que ele passava, às vezes rápido ou
devagar demais. E resolveu escrever:
CEDO da manhã, eu acordo. Eu e os
passarinhos. A mamãe disse que eu tenho
obrigação de ir para a escola. Acho que passarinho
não tem relógio, porque tem desobrigação. Eu toco
flauta para os passarinhos.
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Ganhei a flauta do meu avô. Ele disse que ela
era VELHA. O pai dele foi quem lhe deu aquele
instrumento. Acho que as coisas envelhecem,
porque o tempo se esfrega nelas. O tempo, às
vezes, passa rápido, mas às vezes caminha muito
devagarinho, assim todo tartarugando. Tudo parece
que cabe dentro do tempo.
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Um MINUTO é muito tempo, esperando a
mamãe vir me pegar na escola. Uma HORA é pouco
tempo para brincar de esconde-esconde, boneca ou
pega-pega.
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Um DIA é pouco tempo na casa da vovó.
Casa de avó é lugar onde o tempo passa rápido.
O relógio grande da sala não sossega. O ponteiro
fica, o tempo todo, pinotando. E, quando menos se
espera, já é hora de voltar para casa.
28

Gente adulta tem muitos medidores de tempo,
mas ninguém consegue dominá-lo. Se conseguisse,
eu parava o tempo, por aqui, porque queria ser
sempre menina. Parece que todos se preocupam com
a passagem do tempo, estão sempre consultando
relógios e calendários. Apressados.
29

O tempo passa e a gente cresce. Todo ANO faz
aniversário e vai ficando grande. O MÊS do meu
aniversário é o mais bonito. Acho que abril é um
mês de portas e janelas. E, do outro lado das portas
e janelas, tem sempre uma boniteza. HOJE eu sou
criança, mas sei que num AMANHÃ bem comprido
talvez seja uma avó, dessas que o tempo ri para ela.
E eu vou brincar, antes que o tempo passe rápido
e eu vire…

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